Escola propõe aprendizagem a partir de projetos interdisciplinares e tutorias
Publicado dia 10/05/2016
Publicado dia 10/05/2016
Foi durante uma conversa com a professora tutora, em sala de aula, que os estudantes da turma do 2º ano do Fundamental levantaram um tema: os rios e cachoeiras próximas à escola Vila Verde, localizada no município de Alto do Paraíso de Goiás (GO) vinham acumulando lixo, em parte devido às visitas turísticas na região.
Como resultado do debate entre todos foi pensado um projeto, dividido em duas etapas: primeiro, os alunos fariam pesquisas sobre a importância da água e sua preservação, além da história do território. Depois, foi organizada uma intervenção com mutirão de limpeza e confecção de placas de sinalização pedindo o descarte correto de lixo no local.
Como as crianças ainda não completaram a alfabetização, a iniciativa acabou se ampliando e envolveu os estudantes do Fundamental II, que apoiaram os menores na escrita dos cartazes e avisos.
O percurso teve início em janeiro e términou em março deste ano – mais precisamente no dia 22, Dia Mundial da Água, e reflete a estratégia curricular que a escola vem consolidando desde 2014 – ano em que passa a contar com o financiamento do Instituto Caminho do Meio, depois de algumas ameaças de fechamento.
Desde sua origem, em 2010 (a escola foi criada por um grupo de pais), a instituição tinha a intenção de adotar a pedagogia de projetos, mas até o início da nova gestão as tentativas esbarravam em um modo operante unilateral, no qual apenas os professores sugeriam os temas a serem trabalhados.
Aos poucos, a escola percebeu que era necessário inverter o processo e partir do desejo dos estudantes, respeitando a autonomia estudantil e incentivando o desenvolvimento da segurança e autoconfiança. Também estabeleceram que os percursos poderiam ser trilhados de formas diversas: individualmente, em dupla, trios, ou grupos maiores, de acordo com o interesse dos discentes.
A mudança acabou forçando uma reorganização da estrutura de sala de aula. Todas contam com a presença de professores tutores que abarcam todas as disciplinas, evitando a fragmentação. “A ideia é que esse profissional seja capaz de olhar para todas as áreas e atue no sentido de orientar os estudantes em seus projetos”, explica o diretor Fernando Sérgio Leão Castilho.
Escola Transformadora
A Escola Vila Verde acaba de ser reconhecida pelo programa Escolas Transformadoras, realizado em parceria do Instituto Alana e Ashoka no Brasil. Lançada em setembro de 2015, a iniciativa já conta com uma rede de 12 escolas. Para a diretora de educação do Instituto Alana, Ana Claudia Arruda Leite, a inovação é entendida na perspectiva de que as escolas estão em constante processo de autoria, de construção de práticas pedagógicas e proposição de soluções a partir do percurso de sua história. “O reconhecimento é muito atrelado à identidade, autoria pedagógica e às relações estabelecidas com a comunidade, com o território. Diz de uma capacidade de ter outras referências, até internacionais, mas da inovação a partir de algo que faça sentido para aquela escola específica, que não seja reproduzido”, reflete.
Quando a escola começou a instituir a pedagogia de projetos, os desafios começaram a aparecer. Um deles foi a insegurança dos professores de atuarem em áreas que não dominam. Por isso, buscou-se compartilhar os saberes dos docentes.
Ficaram instituídas reuniões semanais, de uma hora de duração para cada ciclo, e mais outra hora coletiva com todos os professores para que eles construam juntos as estratégias de abordagem de cada conteúdo. Isso é feito depois que eles têm em mãos os temas de projetos sugeridos pelo estudantes. O diretor conta que essas reuniões são fundamentais para que os docentes façam as interfaces com as várias disciplinas e garante também oportunidades de formação continuada, além de possibilitar momentos de esclarecimento sobre as metodologias da instituição.
Ainda na perspectiva da aprendizagem coletiva, o diretor garante que há espaço para a participação ativa dos familiares, de acordo com o interesse, tempo e habilidades deles. “Eles podem tanto atuar na manutenção escolar, como ofertar uma oficina aos estudantes”, coloca o diretor. Eles também se organizam em um comitê, de caráter semanal, para fazer propostas para a escola.
Aos estudantes também são garantidas semanalmente, às sextas feiras, uma assembleia geral de 45 minutos em que expõem suas demandas para toda equipe gestora, funcionários e docentes. Também existe o momento do Grupo de Estudos por Interesse (GEI), com média de uma hora e meia de duração que, segundo Fernando Sérgio, é mais uma oportunidade dos estudantes buscarem o seu desenvolvimento integral.
“Esse momento pode ser oferecido pelos professores, pais, comunidades e até pelos próprios alunos”, finaliza o gestor.
Escola Vila Verde
Telefone: (62) 3446-1080
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