publicado dia 07/04/2016
Valorizar a diversidade é chave no combate a desigualdades educacionais
Reportagem: Ana Luiza Basílio
publicado dia 07/04/2016
Reportagem: Ana Luiza Basílio
“Considerar a diversidade não significa tolerar as desigualdades sociais”. A colocação de Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, dá a dimensão dos desafios que ainda precisam ser enfrentados na pauta de equidade de gênero e raça na educação.
Em um painel realizado pelo Instituto Unibanco, durante o 9º Congresso do Gife, a pesquisadora debateu ao lado de Amália Fischer, do Fundo Social Elas, Hélio Santos, do Fundo Baobá, Valter Silvério, da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco. Foram discutidas estratégias para que o Brasil enfrente os reflexos da desigualdade social na educação.
Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que, em 2013, a proficiência média em língua portuguesa dos alunos brancos era de 269 e a dos negros, 254 pontos. No que se refere à desigualdade de gênero, apesar de abandonarem menos a escola e terem médias melhores em Língua Portuguesa, as meninas ainda apresentam desempenho inferior ao dos meninos em Matemática. No 5º ano do Ensino Fundamental, o índice de desempenho deles é 1,8 pontos percentuais maior que o delas; já no 3º ano do Ensino Médio, a distância aumenta para 5,2 pontos, de acordo com estudo do Movimento Todos pela Educação.
Segundo o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, o enfrentamento a essas situações deve partir do reconhecimento das diferenças e da valorização da diversidade. “Para alcançarmos melhores resultados educacionais, é necessário identificar situações de desigualdades que afetam determinados grupos de estudantes e implementar ações para enfrentá-las, criando condições de equidade”, avalia.
O presidente do Conselho do Fundo Baobá, Hélio Santos, concorda. “Não há nada mais desigual do que tratar todos igualmente. Precisamos superar a visão de que lidar com a diversidade é considerar um pouco de tudo”, coloca, reiterando a necessidade de execução de medidas específicas para casos que assim exijam.
Os especialistas também entendem que a escola pública é o local mais estratégico para que essas ações aconteçam, visto que é a rede que recebe a maioria da população. Nesse sentido, também se tornam imprescindíveis o envolvimento da gestão escolar e o investimento na formação docente.
“É possível identificar três tipos de projetos nas escolas: os que a gestão atua junto são geralmente bem sucedidos e conseguem, com poucos recursos, fazer a diferença no âmbito escolar; já os que têm a gestão ausente ou distante claramente mostram a falta de um núcleo condutor; por último os que conseguem unir gestão escolar, universidades e setores da sociedade civil e trilham avanços bem próximos do ideal, melhorando a percepção de vida dos jovens e promovendo o entendimento deles como parte do mundo”, enuncia o professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós Graduação de Sociologia da UFSCar, Valter Roberto Silvério.
O pesquisador ainda falou da importância do envolvimento da gestão pública e que esse diálogo com a escola pode ser facilitado a partir do momento que a instituição escolar introjetar o tema da diversidade em sua pauta.
Os professores, por sua vez, carecem de preparo para enfrentar essas questões em sala de aula. “Entendo que estamos todos inseridos em uma determinada sociedade, com determinada estrutura social, cultura e religião. Então, para que um professor se coloque em sala de aula de maneira crítica, rompendo com esses laços mais estruturantes, é preciso formá-lo”, acredita Bernadete. Ela agrega que é preocupante o fato de que a academia, que primeiro forma o docente, se dedique pouco a pensar políticas educacionais e metodologias voltadas para a superação das desigualdades – como as de gênero, raça e etnia – existentes no país.
Para a pesquisadora, é necessário dar mais concretude ao tema da desigualdade e diversidade, já nos primeiros momentos da formação docente. “Nós conduzimos os docentes a pensarem seres abstratos, e precisamos reverter isso”, finalizou.
Na ocasião, os especialistas também falaram sobre como a parceria entre instituições de capital privado, instituições de pesquisa e fundos de justiça social podem apoiar no desenvolvimento de ações que busquem qualificar a educação, partindo da equidade.
Atuando neste modelo, o Instituto Unibanco lançou recentemente dois editais, o “Gestão Escolar para Equidade: Juventude Negra”, com a UFScar e Fundo Baobá, e o “Elas Nas Exatas”, com o Fundo ELAS e a Fundação Carlos Chagas.
O primeiro deles, lançado em 2014, tem o objetivo de identificar, promover e contribuir para o desenvolvimento e a implementação de práticas de gestão escolar que busquem elevar os resultados educacionais de jovens negros e negras. A iniciativa foi aberta a escolas e organizações não governamentais e apoiou com recursos técnicos e financeiros dez projetos das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste ao longo de 2015.
Já o Edital Gestão Escolar para Equidade: Elas nas Exatas, em 2015, tem o objetivo de selecionar projetos realizados em escolas públicas que tenham como foco principal a redução do impacto das desigualdades de gênero nas escolhas profissionais das jovens estudantes. O motivador é contribuir para a maior inserção de meninas em carreiras nas ciências exatas e naturais, ampliando seu repertório de escolhas profissionais e de projetos de vida. Atualmente, estão sendo apoiados, ao longo deste ano, dez projetos em nove estados.