publicado dia 11/03/2016
Objetivo central da Base Nacional é fortalecer a equidade, diz Cleuza Repulho
Reportagem: Caio Zinet
publicado dia 11/03/2016
Reportagem: Caio Zinet
Na imprensa, a discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem se focado nos conteúdos das disciplinas, o que é importante, mas não pode tirar o foco de outras questões muito mais relevantes para a educação brasileira. Essa é a avaliação da professora e ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho.
“A discussão sobre História é importante, mas ela não pode direcionar e ocupar todos os holofotes do debate. O essencial é garantir equidade e que as crianças aprendam”, afirmou ela em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral.
Para ela, o objetivo central da Base Nacional é garantir que todas as crianças e jovens do país tenham direito a uma educação de qualidade, independente de raça, gênero, classe social, ou de onde more. “[O objetivo da Base] é diminuir a desigualdade que existe no Brasil, garantindo a equidade de oportunidades para todas as crianças. Independente de onde nascem, precisam ter acesso aos mesmos conteúdos, mas sem deixar de lado as questões locais”, afirmou a docente.
Segundo Cleuza, um dos problemas principais do documento inicial é a fragmentação das áreas de ensino e uma falta de uma visão integral de currículo. Ela critica ainda o fato dos textos das áreas não terem uma estrutura comum, mas opina que a segunda versão deve reparar esses problemas. “Acredito que esse segundo texto vem muito nesse sentido de integração e de trabalho conjunto. Esperamos ver a educação integral e a questão da inclusão incluídas”, disse Cleuza.
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Ela destacou o grande número de contribuições enviadas ao texto inicial. Ao todo 12 milhões de propostas foram escritas numa discussão que envolveu ao menos 35 mil escolas e 200 mil professores.
A Base, segundo Cleuza, mesmo depois de aprovada, continuará sendo discutida. “Todos os países que fizeram uma base curricular em um ou dois anos realizaram revisões posteriores, uma vez que é somente após colocar em prática que percebemos os ajustes necessários”. Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Centro de Referências: Qual a importância da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?
Cleuza Repulho: Em primeiro lugar está a busca pela garantia de qualidade e igualdade educacional em todo o país. Uma das maiores preocupações do Plano Nacional de Educação (PNE), onde a Base está prevista, é diminuir a desigualdade que existe no Brasil, garantindo a equidade de oportunidades para todas as crianças, independente de onde elas nascem, de modo que elas tenham acesso aos mesmos conteúdos, mas sem deixar de lado as questões locais.
CR: Como você avalia o processo de participação em torno da discussão da Base? Podemos considerar o processo democrático?
Cleuza: Houve até o momento 12 milhões de contribuições a partir do documento inicial. É um número expressivo e bastante significativo. É um sinal que as pessoas estão lendo e discutindo a Base. Ainda temos muito o que avançar. A equipe responsável pela elaboração do projeto leu todas as contribuições e elas estão sendo incorporadas.
Claro que nem tudo será incluído, mas a sensibilidade para a participação tem sido muito positiva. Foram mais de 200 mil professores, 35 mil escolas. Esses números mostram que a Base é um assunto que está fazendo parte do dia a dia da educação, mas ainda longe dos 2 milhões de professores, das quase 200 mil escolas.
CR: As discussões na imprensa, principalmente sobre os conteúdos de História e Português, estão acalorados. Você considera essa discussão central quando falamos da Base?
Cleuza: Esse não é o debate central da Base. A discussão mais importante é como garantir equidade. Todas disciplinas são importantes, mas a questão é por que focamos sempre no problema e nunca na solução? A solução é discutir uma Base que tenha ampla aceitação e conhecimento dos professores e a questão dos conteúdos nós vamos ter que fazer ajustes.
Todos os países que fizeram uma base curricular em um ou dois anos realizaram revisões posteriores, uma vez que é somente após colocar em prática que percebemos os ajustes necessários. A discussão de História é importante, mas ela não pode direcionar e ocupar todos os holofotes do debate. O importante é garantir equidade e que as crianças aprendam.
CR: Quais os próximos passo na discussão em torno da Base?
Cleuza: Estamos aguardando para fim de março a conclusão de uma segunda versão da Base que, acreditamos, deve avançar muito em relação ao texto inicial, incorporando contribuições e críticas. Depois de concluída, a segunda versão começa a ser lida e apropriada pelos professores. Então, depois disso, se abre de novo para contribuições.
Em seguida, o documento será encaminhado ao Conselho Nacional de Educação (CNE) com as alterações em relação a essa segunda versão. Depois serão realizadas consultas públicas pelo país todo, via CNE. Por fim, é encaminhada para aprovação de acordo com todos os trâmites previstos no PNE.
CR: Alguns grupos consideram que o documento inicial da Base está muito compartimentalizado em áreas de conteúdo e em seus objetivos, o que não favorece uma visão integral do currículo e dos estudantes. Como você avalia esse ponto?
Cleuza: Isso é um reflexo do que acontece nas escolas. Cada um cuida da sua área e existe pouca integração. Acredito que essa segunda versão vem muito nesse sentido de integrar e pensar no trabalho em conjunto. Esperamos ver a educação integral e a questão da inclusão incluídas nessa segunda versão.
CR: Você considera que no documento inicial existe articulação, alinhamento e senso de continuidade entre o preâmbulo e as áreas do conhecimento, entre textos introdutórios e objetivos de aprendizagem?
Cleuza: Falta bastante conversa entre o texto inicial e os textos das áreas de conhecimento. Espero que essa conversa, que esse diálogo tenha sido feito e pelo que tenho conversado com os especialistas que estão na Base essas conversas estão acontecendo entre eles nos diferentes pontos do país justamente para alinhar que alunos nos queremos, o que é importante que ele aprenda e que cabe nesse projeto porque não é possível contemplar tudo de todas as áreas. Em nenhum país foi assim e não será no Brasil também.
CR: Os textos das áreas não têm uma estrutura comum. Isso não pode interferir do ponto de vista de uma visão mais coesa da Base Nacional?
Cleuza: Com certeza. Eu já ouvi do pessoal que está fazendo toda essa leitura das contribuições que há essa preocupação com a unidade, com a necessidade de criar algo que permeie todas as áreas.
CR: Você considera a Base “excessivamente” escolarizada?
Cleuza: A Base está grande demais. Minha preocupação vai no sentido da quantidade de conteúdo versus o tempo, principalmente se consideramos o que queremos construir na formação das crianças e jovens na escola. Falta articulação e acho que, aos poucos, vamos conseguir avançar – não será um modelo perfeito porque isso é muito difícil e nenhum país conseguiu. Todos fazem revisões a cada um ou dois anos e acho que o Brasil vai caminhar para isso também.
CR: O aprender no território não está secundarizado?
Cleuza: Sim. Precisamos levar em conta em que comunidade cada escola está inserida e na parte diversificada o que é importante para cada comunidade. Não podemos esquecer a diversidade que esse país tem, mesmo dentro das regiões metropolitanas. O território precisa ser levado em conta porque as pessoa precisam se enxergar na Base Nacional.
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