publicado dia 14/01/2016
Pesquisa aponta que maioria dos jovens brasileiros concilia trabalho e estudo
Reportagem: Caio Zinet
publicado dia 14/01/2016
Reportagem: Caio Zinet
O trabalho é uma questão central para a juventude brasileira. Pesquisa aponta que quase 60% dos alunos entre 15 e 29 anos, em algum momento de suas vidas, conciliou trabalho com estudo, seja no ensino médio, no Projovem Urbano, ou na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A pesquisa “Juventude na escola – por que frequentam?”, que foi feita pelo Ministério da Educação (MEC), Organização dos Estados Interamericanos (OEI) e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), aponta que apenas 41,3% dos jovens brasileiros se dedicam exclusivamente aos estudos e que o tema afeta fortemente a permanência da juventude na escola.
Outros 32,2% o conciliam com o trabalho e 10,1% fazem bicos regulares. Entre os que atualmente só estudam, 10,1% já se dedicou às duas atividades em algum momento da sua trajetória escolar.
Esse índice é ainda maior entre os estudantes de EJA, onde 55% dos estudantes declararam que estudam e trabalham, outros 19,1% já estiveram nessa situação e 12,5% vivem entre a escola e bicos para complementar a renda familiar. Somente 12,1% disseram que nunca precisaram fazer as duas atividades ao mesmo tempo.
A situação no ensino médio é diferente: 45,3% dos estudantes só frequentam a escola, 28,9% estudam e trabalham, 9,7% realizam bicos e vão ao colégio, e 16,1% já conciliaram as duas atividades, mas se dedicam somente aos estudos atualmente.
A pesquisa ainda aponta que o trabalho, além de uma questão presente na vida jovem brasileiro, e é um dos principais motivos para abandono escolar, principalmente entre os meninos.
O estudo mostra que do total de jovens que abandonou o ensino formal, 36,1% dos meninos declararam que o motivo foi a necessidade de trabalho. O índice é de 20,9% entre as jovens brasileiras.
Já para as meninas, outros motivos as fazem desistir da escola: gravidez (18,1%) e questões familiares (23,1%) aparecem ao lado da questão laboral. Apenas 1,3% dos meninos disseram que abandonaram o estudo para ser pai e 16,4% alegaram a necessidade de resolver problemas familiares.
Por que os alunos ficam na escola?
A coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, chama atenção para outro debate que foi captado pela pesquisa. Por que os estudantes decidem permanecer na escola, mesmo diante de tantos desafios?. O documento, que também foi elaborado pelos pesquisadores Mary Garcia Castro e Júlio Jacobo Waiselfisz, afirma que a presença de um professor inspirador é apontada por jovens como um motivo para continuar no colégio.
“O senso comum diz que o jovem não está nem aí para a escola, mas isso é uma visão de quem nunca parou para perguntar o que eles realmente acham. Nas nossas pesquisas qualitativas, constatamos que muitos ficam na escola porque têm um professor que eles consideram bom, que sabe ensinar, mantém uma relação de diálogo e se preocupa com eles”, afirmou Miriam.
Outro motivo importante é que a maioria dos jovens tem preocupação com seu futuro e pensa em garantir para seus filhos uma condição de vida melhor do que tiveram. “Eles dizem que não querem que seus filhos tenham as mesmas dificuldades e acreditam que ficando na escola têm uma chance de mudar isso”.
Os jovens entrevistados para a pesquisa também expressaram que não encontram identificação com o conteúdo da escola e sentem que não têm voz e espaços de escuta. Para Miriam a escola precisa mudar essa relação para se tornar atraente.
“Nós temos uma escola e um tipo de ensino que não atrai a juventude porque é complemente voltado para a cultura tradicional, que nega a cultura juvenil, e não ouve o que eles pensam, não presta a atenção em como eles exprimem ideias”, analisa Miriam.
A pesquisa foi realizada no Pará (Belém e Ananindeua), Bahia (Salvador e Feira de Santana), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro e Volta Redonda), Paraná (Curitiba e Ponta Grossa) e Mato Grosso (Cuiabá e Rondonópolis). As entrevistas foram feitas entre 2012 e 2013 e foram ouvidos 5.745 estudantes do ensino médio, 1.986 estudantes do EJA e 552 do Projovem Urbano.