publicado dia 23/11/2015
Mãe pede demissão para acompanhar filha em ocupação de escola na zona leste
Reportagem: Caio Zinet
publicado dia 23/11/2015
Reportagem: Caio Zinet
Bárbara do Carmo é mãe de Ysabella Fernanda, 13 anos, estudante da Escola Estadual Salvador Allende, na zona leste de São Paulo. Nos últimos anos, sua filha passou por algumas escolas e a partir do segundo semestre de 2015 chegou ao colégio novo, onde já se sentia adaptada à nova rotina e colegas.
A informação de que a escola fecharia, em decorrência do processo de reorganização escolar, caiu como uma bomba na família. Primeiro, porque a filha perderia o espaço no qual havia acabado de se adaptar. Segundo, Ysabella teria que estudar em outra unidade, mais distante, e demoraria pelo menos uma hora e meia para chegar, ou seja, entre ida e volta, passaria três horas no trânsito por dia.
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Estudantes reagem a processo de reorganização e ocupam escolas em São Paulo
Quando Ysabella contou à mãe que, junto com outros estudantes, havia ocupado a escola em protesto contra o seu fechamento, Bárbara respondeu de pronto: “Por que você que não me avisou antes? Posso ajudar vocês no que precisarem”.
O que Ysabella não imaginava era até onde sua mãe estava disposta a ir para apoiar a sua luta e a de seus colegas. Contratada há apenas 15 dias como vendedora de uma loja de móveis, foi com a filha até seu emprego para pedir demissão e seguiu junto com ela até a escola.
Bárbara conta que tem ido sempre à ocupação, desde o primeiro dia (12/11). Ela relata que ajuda, mas que os meninos e meninas são muito organizados e se dividem para fazer todas as tarefas cotidianas, como limpar a escola e cozinhar para quem está na mobilização.
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Quando necessário, ela ajuda na cozinha ou limpeza, mas o protagonismo é todo deles. “Pensava que a ocupação seria uma grande bagunça, mas eles sabem o que querem, têm cabeça boa e estão muito organizados”, relata a mãe.
A ocupação Salvador Allende está realizando atividades que não eram promovidas pela gestão escolar. Os estudantes trouxeram para dentro da instituição discussões sobre racismo e homofobia, saraus e sessões de cinema, entre diversas outras atividades culturais.
“Quando não dorme na ocupação, minha filha acorda e já quer ir para a escola e isso é porque são eles que estão fazendo tudo lá dentro. Estão trazendo coisas que não tinham antes aqui, como atividades culturais e debates”, afirmou Bárbara.
Além de encher o espaço com discussões sobre temas contemporâneos, os estudantes também estão cuidando do espaço físico como nem mesmo a gestão fazia. As paredes estão sendo pintadas e o matagal situado ao lado da escola, que havia se tornado um depósito de lixo, foi capinado e agora deu lugar a uma horta, cultivada pelos jovens.
“Os estudantes estão mais responsáveis por eles mesmos. Antes era o dia a dia normal. Iam para a escola, mas não participavam, não se envolviam. Agora é diferente porque são eles por eles mesmos: cozinham, limpam, organizam, pensam em debates e programas culturais a que querem ter acesso”, conta a mãe.
Bárbara se orgulha de sua filha e dos adolescentes que estão ocupando as escolas por todo o estado de São Paulo. “Eles estão aprendendo a lutar pelo direito deles e é isso que todo mundo tem que valorizar”