publicado dia 03/11/2016
Protagonismo juvenil impacta ações e políticas em São Miguel Arcanjo
Reportagem: Ana Luiza Basílio
publicado dia 03/11/2016
Reportagem: Ana Luiza Basílio
“Eu sou Sérgio Batista Furquim, filho de funcionário público que trabalhou 20 anos na prefeitura de São Miguel Arcanjo e morreu porque o médico que o atendeu sequer levantou da cadeira para avaliar seu coração.”Esse depoimento foi um dos que ecoou na Câmara de Vereadores do município do interior de São Paulo, em 2012.
Um a um, os jovens tomaram a frente no Legislativo para apontarem sugestões de melhorias para a cidade; 200 deles encaminharam suas ideias. Esse movimento, genuinamente juvenil, nasceu da luta pelo acesso a um território digno, respeitoso e acolhedor de crianças, jovens e idosos e da negativa premente dos principais problemas existentes na localidade: trabalho infanto juvenil semi-escravo, abuso sexual de crianças e jovens, miséria e pobreza em estado de naturalização, reforçando a ordem social injusta instalada.
Um caminho de articulação
A audiência pública “Políticas Públicas Para a Juventude” nasceu a partir de uma articulação entre os diversos sujeitos da “Rede de Solidariedade de Atores Sociais e Culturais da Juventude”, como grêmios estudantis do Colégio Sadamita Iwassaki, diretórios estudantis e professores do Colégio Arrivabene; alunos e professores dos colégios Maria Elisa e Nestor Fogaça; jovens do Centro de Integração Social Curumim, da Equipe de Luta de Braço, e de movimentos do rap, grafite, dança de rua, música, entre outros.
Essa mobilização e consciência política coletiva ampara o nascimento de um repensar da educação, em proposta antagônica à lógica tradicional de transmissão de conhecimento e informação. “Para nós isso é o que obstrui a possibilidade de fazermos do nosso município, da nossa comunidade, um lugar em que a educação acontece em todos os cantos, becos, campos, praças”, coloca Rodrigo Castro Francini fazendo menção ao principal direcionamento do conceito de Cidade Escola.
A ideia é de, sobretudo, convocar a comunidade a assumir suas responsabilidades educacionais e combater as mazelas ainda presentes no território, ou seja, transformar a realidade ali presente. Com isso, os processos educativos devem acontecer de maneira mais democrática e autônoma, e não contar somente com os espaços escolares. As rodas de encontros, as assembleias ou os demais encontros promovidos pela cidade devem se configurar como tal, a partir do interesse e envolvimento dos indivíduos em promover debates, ações e responsabilidades individuais e coletivas a serem utilizadas.
Nada disso, portanto, está cunhado. A ideia ainda é fruto de amplas discussões lideradas por pesquisadores voluntários da cidade, que também tentam levá-las para o âmbito das políticas públicas. Há uma aproximação e incidência nos Conselhos Municipais, em especial o dos Direitos das Crianças e Adolescentes, da Assistência Social e de Educação.
O Programa SMA e a Juventude
Todas as reflexões levaram ao molde do programa que, para Rodrigo, hoje é a maneira mais palpável de lutar pela metodologia de protagonismo e autonomia juvenil. O objetivo central é, a partir das demandas da juventude, possibilitar a discussão, o estudo, a reflexão, a formação de sujeitos-sócio-históricos capazes de construir as estruturas necessárias para o desenvolvimento integral.
O programa SMA e a Juventude se estrutura a partir de dois núcleos principais: pensamento e comunicação e conscientiz-ação de onde partem oficinas diversas, de artes, pedagógicas, de reflexão, de expressão, ações culturais, políticas, sociais, esportivas, econômicas realizadas em escolas, pontos de encontro ou diferentes espaços da cidade, que contam também com a participação de membros de movimentos e coletivos.
Atualmente, há uma atuação no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos possibilitado via Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). O trabalho é direcionado a jovens em medida socioeducativa ou demais medidas socioassistenciais. São atendidos cerca de 200 jovens que contam com apoio de assistente social, psicólogo, cientistas sociais, pedagogos e professores.
“Com eles, conseguimos colocar em prática a ideia do educar-se, ou seja, um processo em que a educação acontece de maneira simultânea de modo que se interpenetram as complexidades e as subjetividades do ser e do saber todos os lados”, atesta a educadora Elaine Silva.
São ofertadas algumas oficinas que buscam, sobretudo, a reintegração desses jovens na sociedade a partir do entendimento de seus direitos cidadãos. “Não é adestrar ninguém, nem enquadrá-los segundo as convenções sociais, mas construir de maneira conjunta esse percurso educativo”, explica Rodrigo.