Fundação Casa Grande (CE) promove vivências e empodera crianças e adolescentes

Publicado dia 05/12/2014

“Vendo a casa ser montada, as crianças passaram a entrar para brincar, foram tomando conhecimento do que tinha e foram assumindo posições.” É assim com muita naturalidade e tranquilidade que Alemberg Quindins conta como nasceu e foi se construindo a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri.

A casa à qual Alemberg se refere é a casa de seu avô, parte de um engenho e uma das primeiras do povoado, que foi reformada para receber os materiais históricos e arqueológicos que ele e sua esposa Roseane coletavam pelo município e arredores. Se a ideia inicial era preservar o patrimônio histórico e cultural da região, a instituição é hoje um polo de atividades lúdicas e culturais para as crianças, espaço de empoderamento delas e também de formação e geração de renda para jovens e adultos.

O casal fundador diante daquela que foi a casa grande de um engenho (Foto: Reprodução)

O casal fundador diante daquela que um dia foi a casa grande de um engenho (Foto: Reprodução)

Segundo Alemberg, tudo aconteceu pela ação das crianças que foram se apoderando dos recursos da Casa Grande e demandando novas atividades. De tanto ver Alemberg e Rosiane explicarem aos visitantes o acervo do Memorial do Homem Kariri, as crianças passaram espontaneamente a apresentar o que o museu oferecia, repetindo o que haviam aprendido por meio da observação. Com os jovens se apropriando das atividades, a instituição formalizou a colaboração deles e cada vez mais crianças passaram a, por exemplo, receber os visitantes pela instituição, cuidar da gibiteca e propor atividades e brincadeiras. “A meta é empoderar a criança deste pequena”, explica o fundador da instituição.

Com mais crianças e adolescentes frequentando a Fundação, mais atividades foram sendo desenvolvidas. Assim, criaram-se oficinas de vídeos, música, rádio e teatro; e atividades esportivas, de formação profissional e de conscientização ambiental. “Iniciamos o trabalho com as crianças pequenas mas aí elas cresceram e sentiram necessidade de trabalhar e abrimos o programa de empreendedorismo. Percebemos também as demandas familiares e passamos a trabalhar com geração de renda”, relata Alemberg, reforçando  a espontaneidade com que a Fundação foi crescendo.

Atualmente, a instituição trabalha com cinco programas: educação infantil, profissionalismo infanto-juvenil, empreendedorismo juvenil, geração de renda e sustentabilidade institucional.  Para os pequenos, há espaços para acesso de obras e para produção de conteúdos. As crianças podem realizar programas de rádio que são transmitidos na emissora comunitária, participar de rodas de leitura, ou apenas jogar e brincar. As atividades são mediadas e orientadas pelos mais velhos.

À medida que vão crescendo, as crianças se envolvem em atividades mais complexas como a produção de vídeos ou fotos, e na realização de programas de rádio ou de televisão. “Damos instrumentos profissionais para ludicidade infantil e mais para frente eles passam a descobrir que estas são ferramentas.”

Oficinas e produção audiovisual são pontos fortes da Fundação (Foto: Reprodução)

Oficinas e produção audiovisual são pontos fortes da Fundação (Foto: Reprodução)

Com as ações voltadas à qualificação e ao empreendedorismo, muitos jovens seguem carreiras na produção cultural – desde técnico de som até a realizador de filmes. A Fundação os apoia na abertura de empresa própria para a prestação de serviços e custeia o primeiro ano de impostos. Questionado se há mercado de trabalho na cidade de pouco mais de 14 mil habitantes, Alemberg responde: “antigamente se pensava que o mercado estava ligado ao território, mas hoje sabemos que está mais ligado ao talento”. E assim, garotos da Fundação têm suas produções exibidas em outros países e prestam serviços em outros estados.

Além destas ações, a instituição apoia também a geração de renda relacionada ao turismo. A ação foca o fortalecimento das mulheres, que são donas de casa e mãe das crianças que frequentam o espaço. Alemberg estima que entre 70 a 90 mil turistas viajem para a região e para atender este público a resposta foi o turismo comunitário com as famílias recebendo hóspedes em suas casas e os jovens se dedicando a serviços de receptivo turístico.

Além do turismo, as outras áreas de atuação da Casa Grande são: arte, comunicação, esporte, meio ambiente e pesquisa e conteúdo. Atualmente, cerca de 70 crianças, adolescentes e jovens participam das atividades oferecidas.

Espaço educativo da cidade

Com as portas sempre abertas, a Fundação Casa Grande se vê como um dos atores na construção de uma “cidade escola”. A entidade mantém parcerias com as unidades de ensino do município e assim alunos da rede frequentam atividades extraclasse dentro da instituição. “Isso vem para concretizar o projeto de educação integral. Ensino integral não é só dentro da escola, é feito no tripé escola, família e instituição cultural, da comunidade. Ele funciona formando uma cidade escola; a cidade passa a ser a escola e não apenas o grupo escolar”, explica Alemberg.

A instituição tem ainda sob sua responsabilidade o Teatro Violeta Arraes — Engenho de Artes Cênicas, um espaço de espetáculos e de formação de plateia e de técnicos de direção de espetáculos, sonoplastia, iluminação, cenário e roadie. Até setembro de 2014, o Teatro teve banda de lata_helio filhoum público de cerca de 5.500 pessoas e já recebeu artistas estrangeiros, como o cantor Manu Chao, e integra mostras e circuitos culturais.

Impactos

Para os jovens que frequentaram a Fundação, a experiência significa exercício da autonomia, construção de responsabilidade e vivências lúdicas e culturais. Muitos dos “meninos”, como Alemberg se refere às crianças, também saem da instituição com formação profissional e com oportunidades de trabalho e empreendedorismo à frente.

No entanto, o trabalho desenvolvido extrapola as crianças que frequentam o espaço. A instituição estimulou o turismo e tornou a cidade uma referência de cultura na região. Isso significou desenvolvimento e geração de renda para muitas famílias. O trabalho da Fundação tem sido reconhecido e premiado por diversas instituições, como a Ordem do Mérito Cultural, dada pelo Ministério da Cultura em 2004, e o Prêmio UNICEF Criatividade Patativa do Assaré, de 2002.

 

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