publicado dia 14/08/2024

Folclore é oportunidade de trabalhar identidades e questões sociais na escola

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🗒 Resumo: Em 22 de Agosto é celebrado o Dia do Folclore. Confira orientações para trabalhar o tema o ano inteiro com as turmas para além da ludicidade das lendas e sem reforçar preconceitos.

Cada criança que chega na escola traz um imaginário povoado por diferentes personagens do folclore brasileiro. Algumas talvez estejam mais familiarizadas com o Saci e o Lobisomem. Outras, com a Onça da Mão Torta e o Arranca-Língua. 

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Criar um mapa das figuras que a turma conhece é uma das maneiras de engajar crianças e adolescentes no trabalho com o folclore. Quem sugere a atividade é Januária Cristina Alves, que realizou ela própria um mapeamento dessa natureza no Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro (Edições Sesc e FTD Educação, 2017).

“Esta é uma forma de considerar os saberes de cada criança, partir do território onde elas estão e promover o encontro intergeracional, além de ser um bom ponto de partida para compreender qual é o imaginário daquela turma em relação a estes personagens”, indica a jornalista, escritora e pesquisadora da cultura popular brasileira que atuou como consultora na série Cidade Invisível (Netflix, 2021).

Para além das lendas populares, vale a pena ampliar o olhar dos estudantes sobre o tema e mostrar que também fazem parte do folclore a culinária, dança, teatro, festas, cantigas, trava línguas, simpatias, superstições, entre outras linguagens e manifestações culturais. 

“O folclore é todo o conjunto de saberes de um povo que está presente no cotidiano, o que o torna fascinante, porque é feito do mesmo substrato que um Saci”, diz Andriolli Costa, professor, pesquisador e jornalista.

“Ao reconhecer isso, o estudante passa a olhar para a cultura da sua comunidade e perceber que ali tem valor, conhecimentos e vivências ancestrais, que não são uma reminiscência do passado, mas vestígios de um comportamento humano, social, histórico e cultural que fez nós sermos como somos, a nossa identidade”, complementa o também criador do site Colecionador de Sacis.

Cuidados na hora de trabalhar o folclore com as turmas

Se uma lenda retrata os saberes, identidade e cosmovisão de um povo em determinada época e local, ela não permanece intacta. Ao ser contada e recontada, viajando por diferentes tempos e territórios, ela pode ser atravessada pela riqueza da criatividade e cultura de cada um, o que nos presenteia com as várias versões de uma mesma história.

Por outro lado, pode ser permeada pelos preconceitos e mazelas que também nos constituem. “O mito Negrinho do Pastoreio, por exemplo, é criado em um contexto racista”, explica Andriolli. “No trabalho da escola, ir além da ludicidade das histórias nos ajuda a entender quem somos enquanto país”, sugere o professor.

O conto da Mula sem Cabeça é outro exemplo de oportunidade para discussões mais profundas. É possível debater com as turmas de Ensino Fundamental 2 e Médio a questão do controle do corpo feminino por uma maldição que recai apenas sobre a mulher. Ela termina por ser monstrificada e perde a razão, simbolizada pela cabeça.

“Ouvimos dizer que se é folclore é porque não existe, que é faz de conta. Isso é um equívoco”, diz Januária Cristina Alves

“Na hora de trabalhar essas questões, é preciso atenção ao foco. Podemos olhar com mais atenção para a maldição ou para como acontece a libertação da Mula”, diz Andriolli, que lançou no começo deste mês o Caderno de Atividades para Educadores. O livro virtual e gratuito dá sugestões de ações em escolas para discussões críticas e até para relacionar folclore com redes sociais e tecnologias: “Como seria o perfil do Saci em uma rede social?”, brinca.

Outro ponto fundamental é discernir os povos e culturas indígenas, africanos e afrobrasileiros do folclore, em que é comum tratar estes cidadãos, suas crenças e visões de mundo como algo folclórico.

“Não tem problema contar as lendas de Tupã e Iemanjá, mas sempre explicando que eles são deuses cultuados por diferentes religiões. Ouvimos dizer que se é folclore é porque não existe, que é faz de conta. Isso é um equívoco: se está no imaginário e faz parte da nossa cultura, é real e merece respeito”, diz Januária.

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