“Projeto Independente” dá todo poder aos estudantes
Publicado dia 14/04/2015
Publicado dia 14/04/2015
O “Projeto Independente“, da escola Monument Mountain Regional High School, localizada na cidade de Great Barrington, em Massachussets, nos Estados Unidos, foi criado em 2010 por um dos próprios estudantes, Samuel Levin. Ele define sua criação como “uma escola dentro de uma escola”. O programa tem a duração de um semestre, ocorre em tempo integral e congrega estudantes de diferentes perfis e séries do ensino médio. A regra de ouro é: “aprenda a aprender”.
A motivação de Samuel foi perceber que não só ele, mas a maioria de seus colegas “passava seis horas do dia, 180 dias do ano, sendo infelizes”. O adolescente sonhou com uma escola onde os jovens poderiam estudar aquilo que realmente os motivasse, instigasse e apaixonasse. Uma escola que os escutasse. “É uma loucura que em um sistema que foi feito para ensinar e ajudar aos jovens, eles não tenham nenhuma voz”, explica Peter Boyce, outro participante.
Samuel, então, idealizou o “Projeto Independente” e o apresentou à Monument High, que decidiu aceitar o desafio. A iniciativa está baseada na autogestão dos estudantes, já que os adultos e professores aparecem apenas como orientadores, mas não acompanham presencialmente as atividades diárias dos alunos. Por isso, o apoio da direção do colégio e de alguns professores foi fundamental, como mostra o vídeo abaixo (disponível apenas em inglês), realizado por Peter Boyce, como parte do programa escolar. “Algo muito importante é que os alunos aprendem a ser mais independentes”, defende a professora de matemática, Kathy Erickson.
Os seis meses estão divididos em 19 semanas. Na primeira, o grupo, que no projeto piloto contou com oito adolescentes, realiza uma série de atividades e discussões que têm como objetivo apresentar o programa, enturmá-los e criar uma boa dinâmica coletiva, na qual a confiança e apoio mútuo prevaleçam.
Nas próximas semanas, todas as disciplinas são abordadas a partir da divisão delas em dois grupos – Ciências e Artes -, explorando a interdisciplinaridade. Da 2ª à 9ª semana, durante as manhãs, os estudantes se dedicam ao estudo do primeiro eixo; e a partir da 10ª semana, é a vez das artes. Todo o semestre, independentemente do tema estudado, é dividido em três tipos de atividade: estudo coletivo, desafio individual e desafio coletivo.
O estudo coletivo ocorre pelas manhãs. Cada participante traz uma questão relacionada ao conteúdo abordado naquela semana, sempre às segundas-feiras. “O mais importante sobre a pergunta é que você realmente queira saber a resposta”, explica Peter. Eles socializam as perguntas para o coletivo, que às vezes ajuda a polir e melhorar o questionamento. Pergunta estabelecida, todos partem para a pesquisa. Na sexta-feira é a hora de compartilhar o resultado da investigação com os colegas, por meio de uma apresentação. Assim, os estudantes aprendem não só a investigar, mas também a falar em público e a transmitir o conhecimento para outros.
A tarde é dedicada ao chamado desafio individual, em que cada aluno escolhe um projeto pessoal que pode ser desde a construção de um barco a como aprender um novo instrumento. Há estudantes que produziram vídeos, outros escreveram peças de teatro, romances ou coletâneas de poemas ou contos, enquanto alguns preferiram pesquisas sobre temas diversos como meio ambiente ou a recuperação de mulheres que passaram por traumas. Para essa tarefa, o participante do programa pode contar com a ajuda de um professor ou outro tutor que pode ser da escola ou da comunidade.
Por fim, nas últimas três semanas do semestre, o grupo escolhe um desafio coletivo que deve estar relacionado às necessidades da comunidade. Em linhas gerais, o objetivo desse eixo é elaborar algum projeto que tenha impacto social e “faça a diferença”. No projeto piloto, os estudantes escolheram produzir um vídeo sobre a experiência do próprio programa, com o objetivo de incentivar o debate sobre o modelos educacionais alternativos nos Estados Unidos. A decisão sempre deve ser coletiva e um consenso entre o grupo, o que também estimula o debate entre os participantes.
O projeto é fortemente marcado pela autogestão dos estudantes. Um deles é escolhido como um facilitador, cuja tarefa é não só motivar e apoiar os outros participantes, mas servir de elo com a direção da escola, que aparece na figura de um orientador que, por sua vez, apoia-se em um pequeno conselho de três docentes (um de História, um de Matemática e outro de Ciências). Estes, acompanham o projeto, mas não interferem diretamente nele.
O orientador, afirma Samuel Levin em um relatório (disponível em inglês), deve evitar determinados comportamentos. “[Ele] não estava lá presente para responder a perguntas. Ele não estava lá para fazer as coisas tornarem-se mais fáceis cada vez que ficam mais difíceis. Ele não era um ponto de foco e não era um líder. O orientador dever ser um forte, porém invisível ponto de apoio para o grupo”.
Os pais dos alunos participantes também são, de alguma forma, parte do programa, já que devem consentir que seu filho se una à iniciativa. Todos pais são, então, chamados ao colégio para que conheçam a proposta. Eles também são convidados para as apresentações finais dos estudantes e podem, em qualquer época do ano, solicitar uma reunião com o facilitador, o que quase nunca ocorre, já que, como explica Samuel, “quase todos os pais dizem que estão muito cientes do que ocorre no programa porque seus filhos passaram a falar muito mais sobre o que têm vivido na escola”.
É verdade que alguns docentes resistiram ao novo projeto. Os que apoiaram a definição da escola acabaram tornando-se orientadores e contam como a experiência os fez crescer. “É um ótimo risco para se tomar pelos estudantes, dar a eles essa liberdade de pensamento. Na verdade, não pode dar muito errado […] Não posso nem contar quantas vezes as perguntas [deles] me deixaram pensando e então fui e tentei aprender e me atualizar. Todos ganharam algo positivo”, conta a professora de Ciências, Lisa Baldwin.
Outro ponto destacável da iniciativa é que ela reúne jovens de diferentes perfis, dos que possuem bom rendimento acadêmico aos que apresentam mais dificuldades. Os alunos, ao final, são avaliados pelo próprio grupo.
Ainda de acordo com o relatório produzido por Samuel a partir da experiência piloto, o “Projeto Independente” foi “extremamente bem sucedido”. Os jovens aprenderam a conduzir uma pesquisa usando métodos científicos, passaram a usar maior variedade de fontes de informação em suas buscas, e suas dúvidas e questionamentos se tornaram mais precisos e melhor elaborados.
Além disso, conseguiram fazer melhores reflexões acerca de seus próprios trabalhos, podendo, muitas vezes, responder às próprias perguntas e as dos colegas. Os participantes também passaram a organizar melhor seu tempo e se tornaram mais tolerantes nos debates, permitindo a si mesmos olhar para um tema sob distintas perspectivas.
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