Escolas na Argentina abolem divisão por sala e usam arte como fio condutor

Publicado dia 22/09/2015

A história das Escolas Experimentais, na Argentina, remonta a 1958, quando duas professoras universitárias decidiram abrir uma pequena escola baseada na avaliação de que era necessário estudar e implementar experiências alternativas de educação. Passados 58 anos de muita luta, existem ao menos 30 escolas experimentais espalhadas por toda a Argentina que aboliram a divisão por sala.

Os docentes implementaram um método de ensino inspirado pela pedagogia da tolerância, do educador brasileiro Paulo Freire. Cada escola experimental comporta entre 100 e 200 alunos de ensino infantil, fundamental e médio e a arte é usada como fio condutor para abordar as disciplinas obrigatórias do currículo.

Desde o primeiro dia de aula os estudantes mais novos são colocados em contato com ferramentas artísticas, como pincéis, tintas e instrumentos musicais. Enquanto pintam ou aprendem a tocar algum instrumento musical, os professores conduzem a aula, ensinando história, contando qual foi o contexto social e histórico de algum artista.

A divisão por sala ou por idade inexiste e os estudantes são divididos em rodas de discussão compostas por no máximo 25 alunos. O objetivo de trabalhar em pequenos grupos é permitir aos docentes que estabeleçam uma relação muito próxima com os estudantes.

Nas escolas experimentais não existem funcionários responsáveis pela limpeza. Toda a manutenção dos espaços fica a cargo dos professores e, em alguns casos, dos estudantes, quando isso é interpretado como política pedagógica relevante.

Dentro das escolas também é utilizada a gestão democrática e não existe hierarquia entre os professores que tomam decisões coletivas durante as assembleias periódicas.

Nessas instâncias se decide de tudo, até mesmo quais professores podem ou não fazer parte do quadro docente. Dessa forma, o sistema tradicional de concurso não é adotado nas escolas experimentais.

História

As escolas experimentais nasceram a partir da iniciativa de duas professores graduadas pela Universidad de Arte Platense. Nelly Peason se formou em Artes Plásticas e Dorothy Ling em Música.

As professoras criaram o Centro Pedagógico do Prata, em 1958, na casa de Dorothy, até que em 1984, com o fim da ditadura argentina, o então ministro da Educação, Carlos Alconada Aramburú reconhece o espaço como uma escola que se torna pública.

O início do processo não foi tranquilo, visto que havia pressão para que o método de ensino fosse alterado. Os professores do Centro, no entanto, fizeram uma luta para não aceitar a imposição das regras de ensino tradicional.

Após longas batalhas, inclusive por meio judiciais, o Centro conseguiu manter seu projeto político-pedagógico original, baseado na abolição da divisão em séries por idade, onde os alunos não são avaliados por nota; a Matemática, por exemplo, é ensinada por meio de ábacos, as carteiras são proibidas e a formação de professores é feita de forma independente dos programas do Estado.

O Centro, em 1984, deu então origem ao Instituto de Educação Superior Themis Speroni que recebia crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos e também abrigava um espaço de formação de professores que tinham como tarefa espalhar a ideia e fundar outras escolas públicas pelo país, com o mesmo modelo.

Em 1986 nasceu a primeira escola: Las Casuarinas. Um ano depois foi fundada La Garza, em Rincon, em 1988; Barrio Jardín recebeu uma escola em 1989. Hoje, somam pouco mais de 30 instituições. Veja lista de escolas experimentais na Argentina. 

O sucesso foi tamanho que pais interessados em uma educação alternativa para seus filhos passaram a solicitar que escolas experimentais fossem implantadas em suas cidades.

Em 1994, a Argentina aprovou a Lei Federal de Educação que transferia para os estados toda a responsabilidade para educação. Para não ficaram a mercê dos governos da vez, algumas das escolas experimentais decidiram se tornar associações comunitárias.

Ao se tornarem associações, eles se veem livres de cumprir todas as determinações do Estado. Outras escolas experimentais, no entanto, continuam como públicas, mas todas continuam seguindo o mesmo plano político pedagógico.

 

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