“Fui a primeira pessoa da minha família a ter acesso à escola. Isso fez com que despertasse cedo para a minha condição. Minha mãe lavava roupa para outras pessoas em troca de material escolar […] Se o branco é 100%, o negro tem que ser 1.000%. Tem que estar muito acima para se igualar. A saída é essa: ler, estudar muito para conseguir driblar a situação”. 

Este é um trecho do discurso da professora Diva Guimarães durante uma mesa conduzida pelo ator Lázaro Ramos na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2017, em que compartilhou sua luta contra o racismo ao longo da vida. 

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Sua fala emocionou quem estava presente e a professora foi cercada por pessoas pedindo abraços, fotos e até autógrafos. Quando o vídeo de seu discurso começou a circular pelas redes sociais, acumulou mais de 12 milhões de visualizações em apenas um dia.

“Não me preparei para isso, se tivesse pensado, não teria levantado da cadeira, sou muito tímida. Naquela hora quis representar quem não pôde estar aqui. Falei ali pela minha mãe, pelos meus antepassados. Foi um renascimento, uma libertação”, contou Diva ao jornal O Globo após a repercussão.

Desde então, tornou-se referência no combate ao racismo e participou do filme dirigido por Lázaro em 2020, o Medida Provisória. A trajetória de Diva também foi objeto de estudo do artigo acadêmico “Diva Guimarães: a filosofia de vida que faz a carreira”, publicado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná em 2020.

Diva nasceu em Serra Morena, no interior do Paraná, e é filha de uma lavadeira e neta de escravizados. Alfabetizadora e professora de Educação Física, lecionou ao longo de 40 anos. Também jogou basquete e foi velocista. Entre seus autores favoritos estão Conceição Evaristo e Jorge Amado. 

Neste sábado (11/1), a educadora faleceu aos 85 anos, em Curitiba (PR). Lázaro lamentou a morte da educadora em suas redes sociais: “Até o final, a sua presença me ensinou alguma coisa, como, por exemplo, a importância da amizade. Ver suas amigas com a senhora, lhe apoiando, te levando alegria e conforto até o fim, foi emocionante demais”.

 

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O presidente Lula (PT) também homenageou a professora: “Com 40 anos de magistério, Diva expôs o racismo que ainda persiste e precisa ter um fim. Ela deixa um legado de luta e ensinamentos que permanecerá vivo em seus alunos, familiares e admiradores, a quem presto minha solidariedade”.

Já o perfil da Flip recordou o discurso de Diva em 2017: “Sua voz, carregada de emoção, coragem e sabedoria, ecoou por Paraty e por todo o país, tocando fortemente o público. A presença de Diva atestou a força da palavra e a importância de se compartilhar histórias”.