publicado dia 07/12/2016

Pisa 2015: Brasil expande número de jovens matriculados, mas qualidade ainda é baixa

Reportagem:

Para além do dever da universalização, o Brasil segue com o grande desafio de qualificar a educação ofertada, tanto na rede pública como na privada. A afirmação, já parte do senso comum do brasileiro, ganha reforço estatístico com os resultados do último exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).

De acordo com o relatório, o Brasil se manteve nos mesmos níveis desde 2009. Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social, afirma que essa tendência é geral. “A maioria dos países manteve desempenho estável ao longo desses anos”, afirma. Entretanto, a especialista aponta que países similares ao Brasil, como Colômbia e Peru, apresentaram avanços nesse mesmo período.

O Pisa é amostral e há uma margem de erro nos resultados, motivo pelo qual alguns especialistas criticam o ranqueamento. Para Patrícia, apesar do Pisa não dar conta de avaliar de forma completa as redes, a prova aponta questões importantes e permite a comparação com países semelhantes, o que pode servir como um orientador.

Participam da avaliação os 34 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e outros 36 países e territórios convidados, totalizando 70, dos 191 países do mundo. A prova é divida em três áreas de conhecimento: Leitura, Ciências e Matemática. São avaliados estudantes na faixa dos 15 anos de idade que estejam matriculados a partir do 7º ano. A cada avaliação é dado um foco em uma das áreas, analisada de forma mais detalhada. Em 2015, a ênfase foi em Ciências.

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Evolução histórica da pontuação do Brasil no Pisa, de 2000 a 2015, nas áreas avaliadas.

Crédito: Centro de Referências em Educação Integral / Pisa 2015

De acordo com os resultados de 2015, o Brasil ocupa o 63º lugar em Ciências , o 65º em Matemática e o 59º em Leitura. As escolas públicas federais foram as que tiveram maiores notas, seguidas das privadas, das estaduais e municipais. A distância entre federais e particulares as coloca em empate técnico, devido a margem de erro.

Comparação de pontuação no Pisa de estudantes de diferentes redes

Comparação de pontuação no Pisa de estudantes de diferentes redes

Crédito: Centro de Referências em Educação Integral/Pisa 2015

Pontos positivos

Apesar de se manter em uma posição baixa no ranqueamento, a OCDE destacou alguns aspectos em seu relatório específico sobre o Brasil. A organização elogiou o país por ter aumentado a quantidade de jovens na escola.

“No Brasil, 71% dos jovens na faixa de 15 anos de idade estão matriculados na escola a partir da 7ª série, o que corresponde a um acréscimo de 15 pontos percentuais em relação a 2003, uma ampliação notável de escolarização. O fato de o Brasil ter expandido o acesso escolar a novas parcelas da população de jovens sem declínios no desempenho médio dos alunos é um desenvolvimento bastante positivo“, ressalta a OCDE.

Outro ponto importante e pouco destacado pela imprensa é que a diferença da pontuação entre ricos e pobres, no Brasil, é menor do que nos países membros da OCDE, a maior parte deles, desenvolvidos. “Entre os países da OCDE, o desempenho em Ciências de um aluno de nível socioeconômico mais elevado é, em média, 38 pontos superior ao de um aluno com um nível socioeconômico menor. No Brasil, esta diferença corresponde a 27 pontos, o que equivale a aproximadamente ao aprendizado de um ano letivo”, pontua o relatório.

Financiamento

A OCDE também comparou a quantidade de recursos destinados à educação por meio do cálculo do gasto acumulado, por estudante, dos 6 aos 15 anos de idade. Enquanto os países integrantes da organização gastam, em média, 90 mil dólares, no Brasil esse valor é de 38 mil, 42% do que investem as 34 nações da OCDE. Em 2012, o Brasil investia 32%.

“Aumentos no investimento em educação precisam agora ser convertidos em melhores resultados na aprendizagem dos alunos”, avalia o relatório, usando como comparação países como Colômbia, México e Uruguai, que obtiveram resultados melhores em 2015 em comparação ao Brasil, embora tenham um custo médio por aluno inferior. O Chile, com um gasto por aluno semelhante ao do Brasil (40 mil), também obteve uma pontuação melhor (477 pontos) em Ciências. Entretanto, esses países latino-americanos também estão abaixo da média do Pisa.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), Claudia Costin, afirmou que o aumento dos recursos beneficiou mais a educação superior, e não a básica.

Formação docente

Costin aponta que um dos gargalos da educação básica é a formação dos professores. Ela aponta que países que hoje são referência em educação, como a Finlândia, conseguiram melhorar a qualidade do ensino após superar esse desafio.

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A especialista acredita que esse problema também afeta o rendimento das escolas privadas, já que estas também tiveram pontuações muito próximas à média do OCDE, ou seja: as escolas particulares também precisam avançar na qualidade. “Eu acho que tem que mudar a forma como a universidade forma professores”, conclui.

Patrícia Mota Guedes concorda que investir e pensar a formação continuada é fundamental, além de garantir que os docentes deem aulas nas áreas nas quais são formados. “Há deficit de professores de Ciências, por exemplo”. É necessário também tornar a carreira atrativa para que aqueles que se formem em Licenciaturas queiram lecionar em escolas.

Essa é uma das características das escolas federais que, se analisadas separadamente, estão levemente acima da média dos países da OCDE. Patrícia aponta que essas instituições, apesar de serem, hoje, “ilhas de excelência”, elas apontam caminhos e boas práticas.

Resultados principais

– O Brasil está abaixo da média dos alunos em países da OCDE nas três áreas avaliadas: Ciências, Leitura e Matemática.

– Hoje, 71% dos jovens na faixa de 15 anos de idade estão matriculados na escola a partir da 7ª série. São 15 pontos percentuais a mais em relação a 2003.

– A média do Brasil na área de Ciências se manteve estável desde 2006, ano em que o Pisa também deu foco nessa área do conhecimento. Em Leitura, também se manteve a mesma pontuação, desde 2000. Já em Matemática, houve um aumento significativo de 21 pontos na média dos alunos entre 2003 a 2015. Ao mesmo tempo, houve um declínio de 11 pontos se compararmos a média de 2012 à média de 2015.

– A manutenção dos resultados em um mesmo patamar não ocorreu só no caso brasileiro. A média geral, levando em conta todos países avaliados, também se manteve estável.

– O gasto acumulado por aluno entre 6 e 15 anos de idade no Brasil equivale a 42% da média do gasto por aluno em países da OCDE. Essa proporção correspondia a 32% em 2012. O aumento da verba, entretanto, incidiu mais na educação superior.

– Países, como a Colômbia, o México e o Uruguai têm melhor posição em comparação ao Brasil, embora tenham um custo médio por aluno inferior.

– O Brasil tem alto percentual de alunos em camadas desfavorecidas: 43% dos alunos se situam entre os 20% mais desfavorecidos na escala internacional de níveis socioeconômicos do Pisa.

– Países com pontuação acima da média incluem Japão, Finlândia, Canadá, Cingapura, Vietnã, Noruega e Portugal, entre outros. Dentre os que estão na média, temos: Estados Unidos, França, Suécia, Espanha e Áustria. Já entre os que não chegam à média, além do Brasil, estão: Itália, Islândia, Uruguai, México e Chile.

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