publicado dia 28/05/2025

Evento com diretores afastados em São Paulo (SP) reúne educadores na FEUSP

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒️Resumo: Debate promovido pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) na terça-feira (27/05) prestou solidariedade e ouviu os relatos de diretores afastados de suas atividades nas escolas municipais da capital paulista. 

Com críticas à atuação da Secretaria Municipal de Educação (SME), questionamentos sobre o uso de avaliações externas como critério e muitas incertezas com relação ao futuro, educadores, ativistas e estudantes ouviram relatos e prestaram solidariedade aos 25 diretores escolares afastados de escolas municipais em São Paulo (SP).

Promovido pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), o evento ocorreu na esteira dos protestos das comunidades escolares afetadas e das críticas feitas por especialistas em Educação sobre a medida. 

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Com o tema “Intervenção nas escolas: ameaça à autonomia das comunidades escolares e ao Direito à Educação”, o evento lotou o Auditório Lisete Arelaro na noite de terça-feira (27/05). Além de três diretores afastados, estiveram entre os cerca de 200 presentes educadores, parlamentares e ativistas do campo da Educação, além de alunos e professores da USP.

Para diretores afetados, afastamento está ligado à privatização 

Evento com diretores afastados em São Paulo (SP) reúne educadores na FEUSP

Evento com diretores afastados em São Paulo (SP) reuniu educadores e ativistas na FEUSP. 

Crédito: Nataly Simões/Aprendiz

O diretor Cláudio Marques da Silva Neto, da EMEF Espaço de Bitita, uma das escolas afetadas pela medida, iniciou o debate defendendo que o afastamento está conectado a um plano de privatização da gestão das escolas públicas. 

“A gente precisa se dar conta da privatização que está acontecendo no cenário político”, opinou, citando o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “O Ideb [da escola] aparece como o grande explicador do contexto político que estamos vivendo. O índice é uma escala estatística e isso não é sinônimo de qualidade de trabalho nas escolas”, apontou Cláudio. 

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Em janeiro, o secretário municipal de Educação, Fernando Padula, já havia sinalizado o objetivo de levar a gestão privada para escolas públicas consideradas vulneráveis (gestão compartilhada) na capital. 

À época, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o secretário afirmou que seriam escolhidas 50 escolas, mas não indicou qual seria o critério de seleção. 

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é calculado a partir dos dados sobre aprovação obtidos no Censo Escolar e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), para as unidades da federação e para o País, e a Prova Brasil, para os municípios.

Ainda de acordo com Cláudio, analisar o trabalho da escola a partir de uma avaliação externa como o Ideb é desconsiderar a realidade em que ela está inserida. 

No caso da Espaço de Bitita, o diretor explica que a escola recebe grande população de alunos migrantes e refugiados, muitos deles ainda sem fluência em Língua Portuguesa, o que prejudicaria o desempenho na avaliação externa. Outro ponto apresentado pelo diretor é a baixa permanência dos estudantes vulnerabilizados.

Apesar do contexto desafiador, a escola onde Cláudio atua, a Espaço de Bitita, é reconhecida nacionalmente pelo trabalho pedagógico diverso, inclusivo e democrático. 

Escolas afetadas estão em locais vulnerabilizados e possuem gestão democrática 

A qualidade do ensino oferecido pelas escolas foi destacado pela nota de repúdio produzida pela FEUSP, lida na ocasião. 

“Chama a atenção que as unidades escolares em questão têm pelo menos dois aspectos em comum: estão localizadas e atendem comunidades em situação de alta vulnerabilidade e muitas delas vêm, há muitos anos, desenvolvendo projetos político-pedagógicos efetivamente comprometidos com o princípio constitucional da Gestão Democrática da Educação Pública, com o enfrentamento das desigualdades e das discriminações e com a promoção das culturas africanas, afrobrasileiras e indígenas, conforme determina o art. 26-A da LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)”, defende a nota. 

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Profissionais que atuam na EMEF Ibrahim Nobre, da região do Rio Pequeno, também participaram do evento. O diretor Leonardo Manini destacou os desafios socioeconômicos que os alunos da escola enfrentam e que exemplificam a dificuldade que é mantê-los no ambiente escolar.

“Meus alunos moram em cima de casas de palafitas, em cima do rio. Quando chega no início do ano, que tem mais chuvas, eles têm que se segurar para não ter a dignidade e a vida levadas. É com essa população que a gente trabalha. É com essas condições extraescolares que lidamos”, contextualizou. 

“Qualquer um de nós aqui quer ter nota boa no Ideb. Eu quero meus alunos na Nasa. No ano passado levamos eles na Etec e fizemos todos se inscreverem na prova, mas no dia nem todo mundo foi. Nem todos têm pais para levá-los. Falta pegar na mão e ir”, complementou.

Diretores afastados passarão por formação 

Os 25 diretores afastados iniciarão na próxima segunda-feira (02/06) uma formação  de “requalificação intensiva”, conduzida pela Secretaria Municipal de Educação (SME), e que deve ocorrer até dezembro.  

“O discurso do prefeito é de que a gente não tem condições e conhecimento educacional para realizar um trabalho na escola. Quando ele diz isso, ele está maculando essa casa, onde muitos dos diretores e diretoras foram formados. Eu fiz mestrado, doutorado e acabo de concluir o pós-doutorado aqui na USP e não vou admitir isso”, avaliou o diretor Cláudio, da EMEF Espaço de Bitita.

Durante o debate na FEUSP, os educadores também cobraram maior transparência da gestão municipal e pediram que a USP colabore com uma investigação sobre os critérios adotados.

Comunidade escolar se mobiliza em defesa dos diretores afastados 

O anúncio do afastamento dos diretores gerou comoção nas comunidades escolares. Ainda durante o debate, o diretor Carlos Roberto Medeiros Cardoso, da EMEF Caio Sergio Pompeu de Toledo, da Cidade Tiradentes, celebrou o papel que os jovens têm exercido desde o anúncio de seu afastamento. 

Na última sexta-feira (23/05), os estudantes realizaram um ato em defesa de sua permanência na unidade e homenagearam o educador. “Eles fizeram uma escola de fato interdisciplinar, deram uma aula pública digna de orgulhar Paulo Freire, Anísio Teixeira e qualquer educador desse país. Eles abraçaram a escola e isso é Educação”, afirmou Carlos. 

Afastamento de diretores escolares em São Paulo (SP) gera críticas e mobilização de comunidades

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