publicado dia 14/11/2024
Conceito e prática da intersetorialidade é tema de debate no Seminário Nacional de Educação Integral
Reportagem: Da Redação
publicado dia 14/11/2024
Reportagem: Da Redação
🗒 Resumo: No último dia do 3º Seminário Nacional de Educação Integral, especialistas discutiram o conceito e a prática da intersetorialidade, que articula a Educação com as demais políticas públicas, instituições, projetos e oportunidades do território. Saiba como foi o debate.
“Intersetorialidade e trabalho em rede: articulação em nível nacional e as vivências nos territórios” foi o tema de debate que aconteceu na manhã desta quinta-feira (14/11), durante o 3º Seminário Nacional de Educação Integral.
Com mediação de Gesuína de Fátima Elias Leclerc, analista técnica de políticas sociais e Coordenadora-Geral de Articulação Intersetorial no Ministério da Educação (MEC), Marta Azevedo Klumb Oliveira, pesquisadora do Instituto Henfil, apresentou a concepção da intersetorialidade e Elisa Maria Costa, ex-prefeita de Governador Valadares (MG), compartilhou como o município articulou as políticas na prática.
O Seminário, que visa discutir a “Educação Integral para cuidar da vida e do planeta: aprendizagens e pleno desenvolvimento em sintonia com o tempo presente”, acontece entre os dias 11 e 14 de novembro, das 8h30 às 18h, com sede no Memorial Darcy Ribeiro, em Brasília (DF).
A transmissão online é realizada pelo canal no YouTube da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Para quem se inscreveu e deseja obter o certificado, é preciso acessar o evento pela plataforma indicada pela organização do evento.
Marta Azevedo Klumb Oliveira, pesquisadora do Instituto Henfil que tem experiência em atuar na relação entre diferentes Ministérios, destaca uma das principais características de qualquer estratégia intersetorial:
“A intersetorialidade precisa partir da realidade […] o que no Brasil significa levar em conta a violência contra as mulheres e as crianças e adolescentes, demandando múltiplos cuidados com as famílias e as professoras”.
A especialista cita Paulo Freire para embasar o princípio da intersetorialidade quando o Patrono da Educação Brasileira diz que a escola precisa atender à “ética da responsabilidade sobre todo e qualquer ato de opressão e de desrespeito humano”.
“É preciso escutar o território, os professores, estudantes, famílias e comunidades. Assim é possível identificar as demandas, possíveis articulações, desafios e potencialidades de cada contexto”, orientou Marta Azevedo Klumb Oliveira
Nesse sentido, a escola se torna catalisadora, disparadora, da intersetorialidade no território, um vez que ela depende dos demais serviços e políticas públicas para enfrentar questões que são complexas e multifatoriais, como o racismo, capacitismo, desigualdades e outras violações de direitos, como falta de moradia e acesso à Saúde.
“Precisamos de consciência crítica sobre o território e sua identidade. A escola precisa ser o elemento que provoca essa reflexão sobre como está e se relaciona nesse território. Depois de conhecer, é se debruçar sobre como articular o que há nesse território. Dele pode vir financiamento, apoio técnico e muitas outras potencialidades”, afirma Marta.
Para que o empenho em unir forças para garantir direitos se efetive, a gestão democrática se faz indispensável. “Não pode vir de cima para baixo. É preciso escutar o território, os professores, estudantes, famílias e comunidades. Assim é possível identificar as demandas, possíveis articulações, desafios e potencialidades de cada contexto”, diz Marta.
Elisa Maria Costa, ex-prefeita de Governador Valadares (MG) entre 2009 e 2016, compartilhou a experiência do município em atuar de forma intersetorial.
Para contextualizar, Elisa explicou que o território era marcado por muitas potencialidades, mas também desafios como o genocídio dos povos indígenas, desmatamento para agropecuária, expulsão de pequenos produtores, altos índices de violência infanto-juvenil e contra mulheres, baixa escolaridade, alto desemprego e empregos precários.
“Estruturamos a política no município coletivamente com o protagonismo das mulheres, a partir das demandas e potencialidades locais”, relatou Elisa Maria Costa
Com as escolas no centro, teve início a articulação entre as políticas públicas para enfrentar o cenário, que contou com financiamento de programas federais, como o Mais Educação. Primeiro, ampliaram a jornada das escolas para 8 e 10 horas diárias e universalizaram o atendimento para a cidade e o campo a partir de 2010.
“Isso trouxe um benefício para as mulheres, que puderam buscar autonomia, novas oportunidades e mobilidade social. São mães que puderam fazer escolhas em suas vidas. Muitas foram trabalhar, voltaram a estudar, participar de atividades comunitárias ou se dedicar ao cuidado pessoal”, lembrou Elisa.
O trabalho pedagógico e toda a concepção da escola passou a ser pautado pela Educação Integral, que visa a formação humana plena para a justiça social e que garante a proteção dos direitos de todos.
Na escola, os estudantes aprendiam sobre a história da cidade e faziam de quatro a cinco refeições diárias, contribuindo para sua segurança alimentar. “E tivemos todos os estudantes com deficiência inclusos em salas comuns”, disse Elisa.
A política de habitação passou a dar prioridade às mulheres na casa própria e na titularidade. “A política de habitação, junto com Educação, ajudou a reduzir a violência doméstica. Éramos a segunda cidade mais violenta do Brasil e conseguimos sair desse indicador. Tudo porque estruturamos a política no município coletivamente com o protagonismo das mulheres, a partir das demandas e potencialidades locais”, afirmou a ex-prefeita.