publicado dia 16/09/2015

Engajamento das famílias com as escolas deve ser pensado de maneira sistêmica

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A partir do reconhecimento de que as famílias são importantes no processo educacional, muitas escolas vêm tentando estabelecer essa aproximação ou melhorar as formas de lidar com essa parceria. No entanto, esse esforço não deve estar concentrado somente nas instituições escolares, visto que o envolvimento dos familiares contribui para a melhoria dos processos de aprendizagem e reduz desigualdades. Esta foi a discussão central do Ciclo de Debates promovido pela Fundação Itaú Social, na última terça (15/09), em São Paulo.

Durante o evento, se colocou a necessidade de se pensar essa interação de maneira sistêmica, ou seja, colocada dentro de um processo que tenha objetivos, estratégias e resultados claros, se possível projetado para o campo das políticas educacionais. Para debater essas práticas e contar esses desdobramentos em diferentes territórios se reuniram especialistas internacionais e gestores educacionais brasileiros.

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Especialistas internacionais e gestores educacionais debatem engajamento familiar.

 

Estudos de caso

As pesquisadoras do Harvard Family Research Project (EUA), Heather Weiss e Elena Lopez, apresentaram os resultados da pesquisa “Engajamento das Famílias: uma visão para o século 21”, realizada a partir do estudo de caso de diversas iniciativas pelo mundo que se propõem ao engajamento com as famílias – caso do Chile, com o programa “Aprender en Familia”; e das cidades norte-americanas de Boston, Chicago e Los Angeles.

As especialistas afirmaram, sobretudo, que o engajamento com as famílias não pode perder de vista o fator humano. Embora necessite ser sistêmico, não pode partir de modelos prontos. “É preciso considerar as famílias, como se sentem, o que necessitam e com quem querem falar”, explicou Heather. A sugestão é que cada localidade crie as suas próprias práticas com base em pesquisas e princípios multidisciplinares, buscando avaliar e melhorar seu processo.

Elas também entendem que, uma vez estabelecido, ele deve ser conduzido de maneira compartilhada, com responsabilidades que recaem sobre a escola e também sobre os familiares. O ideal, como apontaram é que, no âmbito familiar, o engajamento seja contínuo, desde o nascimento da criança, entendendo que a aprendizagem dela se dá para além do contexto escolar.

Heather e Elena afirmaram que o investimento sobre a aproximação das famílias com as escolas tem impacto direto nos estudantes, no que diz respeito ao conhecimento, comportamento e desenvolvimento de competências deles. Isso porque, uma vez engajadas, as famílias passam a adotar valores e expectativas sobre a educação – comunicam a sua importância, definem expectativas elevadas e incentivam a persistência dos filhos – e desenvolvem comportamentos que promovem a aprendizagem e o desenvolvimento.

As escolas também podem se beneficiar dessa relação. As especialistas entendem que sob a ótica da participação da família, as instituições escolares são convocadas a revistar suas práticas para assegurar essa interação, acabam por compartilhar de melhor forma os resultados e necessidades dos alunos, além de se abrirem para o reconhecimento de habilidades na comunidade, configurando uma rede de apoio educacional externa.

Uma questão de política

Michele Brooks, que já atuou como assistente da superintendência das escolas públicas de Boston, relatou a experiência de como a cidade implementou o engajamento familiar de maneira sistematizada. A especialista enumerou por etapas as ações tomadas pelo território por entendê-las fundamentais como parte do processo.

Como primeira medida, elencou a avaliação das políticas territoriais nos níveis federais, estaduais e municipais, por entender a ação como fundamental para reconhecer possíveis pontos de alavancagem, criar responsabilização das diferentes instâncias e prever a necessidade de recursos. Ainda nesta fase, Michele falou sobre a importância de se reconhecer boas práticas com evidências de uma cultura de engajamento que reúnam, entre outros aspectos: ambientes acolhedores com relações respeitosas e de confiança; oportunidade para pais e professores construírem conjuntamente seus papeis e objetivos; estratégias compartilhadas para reforçar o aprendizado em casa; poder e responsabilidade compartilhados para o sucesso escolar do aluno e para a melhoria da escola.

Na fase de organização do trabalho, a especialista falou sobre a importância de se ter clareza da teoria de ação que será colocada em prática, sempre tendo em vista a necessidade de se garantir a eficácia do engajamento na prática. Por fim, no que chamou de facilitação do trabalho, colocou a necessidade de traduzir o plano de ação em ferramentas de engajamento direcionando, a cada uma delas, estratégias de impacto.

Corroborando a opinião das demais especialistas, Michele entende que o engajamento, dado em uma proposta sistêmica de compartilhamento de responsabilidades, é um poderoso impulsionador dos resultados educacionais. Também entende que a aproximação entre escolas e famílias, quando respeitosa e pautada pela confiança, é a base para uma cultura de engajamento.

Coordenadores de pais

Os secretários de educação de Santos e Salvador, Venúzia Nascimento e Guilherme Bellintani, respectivamente, falaram sobre o desdobramento local do programa Coordenadores de Pais, iniciativa da Fundação Itaú Social que busca dar apoio às equipes escolares nos esforços de acolhimento, apoio e parceria junto às famílias de seus alunos.

Na rede da baixada santista, que contempla 80 escolas, a iniciativa está em fase piloto em sete unidades. Para Venúzia, a figura do coordenador de pais – há um por escola – veio contribuir com a atuação do orientador educacional e, portanto, com todo o trabalho pedagógico. “O coordenador de pais é antes de mais nada alguém que mora na comunidade, diferentemente do orientador educacional. Então, vimos que com essa figura ficou mais fácil desenvolver um trabalho efetivo com as famílias que engloba até visitas às residências para que possamos nos aproximar e entender as dinâmicas e necessidades dos núcleos familiares”, relatou.

Em Salvador, segundo relatou o secretário, o projeto – batizado de Agentes da Educação – está em fase de universalização nas 440 escolas da rede municipal e hoje atinge 80% das unidades escolares. Por lá, quem cumpre a função de aproximar as famílias das escolas são os estagiários de pedagogia da cidade. “Temos como requisito que ele tenha sido ex-aluno da escola e more a até máximo de 1500 m dela, estratégia encontrada para aproximar sua atuação da comunidade escolar”, exemplificou.

Diálogo entre família a escola deve começar antes de surgirem problemas

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