publicado dia 13/03/2025
O combate ao racismo em todas as dimensões da Educação Integral
Reportagem: Da Redação
publicado dia 13/03/2025
Reportagem: Da Redação
🗒 Resumo: A partir das Diretrizes de Educação Integral Antirracista, Jaqueline Lima Santos e Renata Grinfeld analisam como o combate ao racismo pode se fazer presente em cada uma das dimensões do desenvolvimento integral dos sujeitos.
Efetivar o combate ao racismo na escola demanda refletir e agir sobre todas as dimensões que compõem o desenvolvimento integral dos sujeitos – física, social, cultural, emocional e intelectual.
Leia mais
Para contribuir com essa missão, as Diretrizes de Educação Integral Antirracista trazem conceitos e práticas da Educação Escolar Quilombola e Indígena, bem como das leis n.º 10.639/03 e 11.645/08, que instituíram a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena na Educação Básica, para pensá-los diante da concepção de Educação Integral.
A publicação é gratuita e voltada para equipes de Ministérios, Secretarias e Diretorias de Educação, e da gestão escolar, e foi lançada pela Cidade Escola Aprendiz, Roda Educativa e Ação Educativa, com apoio da Porticus e colaboração de várias outras organizações e educadoras.
Na live Hora do Intervalo de fevereiro, Jaqueline Lima Santos e Renata Grinfeld, duas das autoras do material, detalharam como o combate ao racismo se faz presente em cada uma das dimensões dos sujeitos.
Em 27 de março, a Hora do Intervalo recebe as outras duas autoras – Míghian Danae e Silvane Silva – para debater os princípios que norteiam as Diretrizes de Educação Integral Antirracista. No mês seguinte, em 8 de abril, acontece o lançamento oficial da publicação no Ministério da Educação (MEC), com transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do Centro de Referências em Educação Integral.
Para começar o debate, Renata Grinfeld, que é formadora e coordenadora pedagógica na Roda Educativa, explicou que a Educação Integral e Educação Para as Relações Étnico-Raciais (ERER) são indissociáveis: “O desenvolvimento pleno precisa ser antirracista, porque o racismo segrega, aparta, o contrário do que concebemos como Educação Integral”.
Jaqueline Lima Santos, professora, pesquisadora, consultora nas áreas de equidade, raça e gênero, e coordenadora da publicação, reforçou a ideia: “Não existe aprendizagem, desenvolvimento integral e a efetivação dos direitos educacionais se os estudantes estiverem sofrendo racismo”.
Embora as dimensões do sujeito sejam interdependentes, durante a live as especialistas olharam separadamente para cada uma delas para detalhar aspectos fundamentais de serem considerados a fim de combater o racismo de forma integral.
No campo da dimensão física, as especialistas destacaram a importância de efetivar o bem-estar entre todos os estudantes de forma equitativa, reconhecer e valorizar a beleza e a potência da corporeidade negra e agir imediatamente quando acontece uma violência racista.
“O racismo na dimensão física também aparece quando o estudante negro não se vê no material didático, nas pinturas feitas na escola, na história que é contada sobre seus antepassados, não se identifica com aquele espaço e tem seu corpo corpo desumanizado. É preciso valorizá-lo e reconhecê-lo, a partir da noção de que a diferença está em todos nós”, afirmou Jaqueline.
No aspecto social, combater o racismo começa por refletir como brancos, negros, indígenas e asiáticos se relacionam no dia a dia e produzem desigualdades. “Temos que nos reeducar para corrigir esses problemas e pensar sobre os problemas que a hierarquização das diferenças causam”, orienta Jaqueline.
Já a dimensão cultural deve ser repensada a partir da valorização de múltiplas contribuições sociais, culturais, tecnológicas e científicas de diversos povos, para além dos europeus.
“A diversidade cultural precisa estar na centralidade do debate, das práticas pedagógicas e das relações humanas, e não no lugar folclórico e exótico”, orientou Renata.
Além disso, é central que as escolas se aproximem da cultura presente no seu território e na vida de sua comunidade escolar. “Quais são as práticas de medicina tradicional, as festas e rituais e as palavras africanas e indígenas que estão na nossa língua? Não estamos falando de uma cultura do outro e distante, mas de práticas culturais diversas que formam nossos hábitos e formas de cuidar e fazer ciência no nosso cotidiano”, destacou Jaqueline.
Para além de valorizá-las, as especialistas também indicaram a importância de problematizar as violências que essas manifestações culturais sofrem no dia a dia em decorrência do racismo.
Para combater o racismo na perspectiva emocional, Jaqueline apontou que é preciso se distanciar de discursos que partem do desenvolvimento individual dos sujeitos.
“O emocional desse aluno depende de ter o racismo e seus problemas reconhecidos, de mudanças no currículo, de colocar os sujeitos negros como protagonistas da história do Brasil, valorizar seus aspectos estéticos, socioculturais e de humanizar as relações”, afirmou a especialista.
Por fim, a dimensão intelectual deve ser considerada a partir da diversificação de fontes de saberes e de colocar outros povos como produtores de conhecimento.
“A [escritora] Chimamanda Chimamanda Adichie já nos avisou sobre o perigo da história única, então precisamos de justiça curricular para celebrar e problematizar as diferenças […] ampliar o repertório de conhecimentos para que os estudantes possam agir sobre o mundo e potencializar sua participação ativa, além de valorizar os conhecimentos que trazem de suas comunidades”, disse Renata.
Ver essa foto no Instagram