publicado dia 20/06/2016

Relação de youtubers com internet deve ser mediada por escolas e família, opinam especialistas

Reportagem:

Entre o público infantil,  fazem sucesso canais como Bel para meninas, que reúne 1,8 milhões de youtubers, e Julia Silva, com 1,3 milhões de seguidores; entre os adolescentes, os destaques são os canais Rezendeevil, com uma marca de mais de 7 milhões de inscritos, e Authentic Games, com 5,5 milhões de adeptos.

Os números não deixam dúvidas quanto à presença de crianças e adolescentes no Youtube, plataforma de compartilhamento de vídeos que disputa as primeiras colocações entre as redes sociais mais populares.

Uma pesquisa realizada pela coordenadora do núcleo de Famílias e Tecnologia do ESPM Media Lab, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Luciana Corrêa, aferiu que, em outubro de 2015, entre os cem canais de maior audiência no Youtube, 36 ofereciam conteúdo direcionado ou consumido por crianças de zero a 12 anos. Quando considerados os 110 principais canais infantis, o número de visualizações passava dos 20 bilhões.

O que esse público consome?

O estudo também verificou quais são as categorias de conteúdo prediletas pelas crianças e adolescentes na plataforma. No topo dessa lista estão os canais de games, seguidos pelos youtubers mirins e teens, desenhos e novelas infantis, desenhos e musicais não disponíveis na TV, unboxing (que trata de abrir caixas de brinquedo) e os canais educativos.

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Fonte: Portal EBC

Esse ranking acaba sendo bem pouco fixo, uma vez que está totalmente relacionado ao número de visualizações. Luciana conta que no final do ano de 2015, momento em que os dados da pesquisa foram apresentados, só a categoria unboxing já alcançava quase 1 milhão de visualizações, e tem sido a que mais se destaca. As demais categorias, que até o período somavam 20 bilhões de visualizações, dobraram o resultado em maio de 2016, indo para 40 bilhões [a pesquisadora continua monitorando o comportamento dos canais].

Para a especialista isso dá foco a uma questão importante: o tempo que as crianças e adolescentes têm dedicado na frente dos computadores.

De olho no desenvolvimento

Para o psicanalista e líder da área de humanidades e direitos da ESPM, Pedro de Santi, a internet traz uma questão de ambivalência. “O que é muito atual é a ideia da inversão da ‘cultura de massa unilateral’ – o cinema, a tv, o rádio – que na internet ganha outro movimento, em que a pessoa se apropria de algo e vira autor. Isso certamente é criativo. Por outro lado, há a questão da dependência, pois no caso dos youtubers reconhecidos, o sucesso deles depende do olhar do outro, a cada post se espera desesperadamente por essa aceitação”, avalia.

No caso das crianças isso pode ser ainda mais preocupante. Segundo o especialista, na fase dos 3 aos 7 anos, é importante que elas aprendam a lidar com a frustração, quebrando a sua onipotência. Nesse sentido, o sucesso pode ser prejudicial. Outra questão pode estar relacionada ao próprio dinamismo da rede, como Pedro também avalia. “Como é um ambiente rápido e que permite acesso a tudo, pode ser que as crianças também tornem-se mal acostumadas a esperar, a ser pacientes”, coloca.

O fato é que não faltam dualidades na relação estabelecida entre crianças e adolescentes com a internet. “Veja que se por um lado esse ambiente permite acesso absoluto a informações e promove o desenvolvimento de habilidades em uma perspectiva criativa e inovadora, por outro, pode diminuir o interesse por linguagens simbólicas um pouco mais complexas, como a leitura”, analisa.

Por essa questão é que ele defende a necessidade da mediação, papel que deve ser desenvolvido com o apoio das famílias e das escolas. “A formação dos sujeitos está cada vez mais descentralizada com a internet  e as informações ao alcance. Porém, por mais que essas instituições tenham perdido um pouco de poder nesse sentido, é preciso que se coloquem favoráveis ao diálogo”, completa.

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