Em Cotia (SP), Colégio Viver conduz processo autônomo como tônica da aprendizagem
Publicado dia 14/05/2014
Publicado dia 14/05/2014
Iniciativa: Colégio Viver
Pública ou privada: Privada
Descrição: A conquista da autonomia é a principal tônica da linha pedagógica do Colégio Viver, localizado em Cotia, a cerca de 30 quilômetros da capital paulista. Atuante há mais de 35 anos, a instituição tem na sua proposta de ensino a mediação da relação das crianças com o aprendizado, que se estabelece a partir da conjunção das diversas dimensões do indivíduo, prevendo o seu desenvolvimento integral.
A escola teve início com a educação infantil e sentiu a necessidade de estruturar o ensino fundamental para dar continuidade ao trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças. Foi uma forma de garantir que o percurso da educação básica se desse continuamente com base no desenvolvimento da autonomia dos estudantes. Isso significa encorajar os alunos a lidar com a busca pelo conhecimento a partir de uma perspectiva pessoal, dos interesses e afinidades de cada um.
Desde a educação infantil, o processo pedagógico no viver se constrói no estímulo às escolhas dos estudantes, encorajando que estes aprendam a selecionar e mediar a informação, o tempo e as relações no coletivo. Paralelamente, a escola viabiliza espaço livre para o brincar, para a construção lúdica da criança, valorizando sua capacidade imaginativa e de interagir com os demais.
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Já a partir do ensino fundamental I, os alunos são colocados em contato com os projetos de Ciências e Matemática e de Humanidades, proposta que prevê pesquisa e uma construção coletiva a partir de um tema de interesse comum. Também são utilizadas as aulas “ferramentas”, destinadas a trabalhar com os estudantes as habilidades necessárias para a condução desse processo, como capacidade leitora e crítica, conhecimentos matemáticos, entre outras; e ainda as aulas de especialistas que abordam aprendizagens acerca da música, capoeira, inglês e artes.
No ensino fundamental II, além das disciplinas curriculares tradicionais, os alunos participam de aulas de Humanidades, que são momentos em que os professores de História, Geografia e Português trabalham de forma coletiva e compartilhada com as turmas do 6º ao 9º ano, prevendo uma abordagem interdisciplinar.
As aulas de Humanidades têm por princípio serem um espaço de discussão e produção coletiva. No processo, os jovens trabalham com um tema gerador e desenvolvem discussões a partir dos seus interesses. Quando necessário, os professores se organizam e propõem oficinas acerca do tema de suas áreas e que possam complementar ou facilitar a discussão dos jovens. A aula expositiva, então, se torna uma ferramenta do professor, quando este sente que ela é necessária para a produção e melhor aproveitamento da turma.
Ainda na etapa, os pré-adolescentes trabalham em horários semanais regulares com projetos pessoais, nos quais escolhem um professor orientador, a questão a ser abordada, formato, instrumentos de pesquisa e periodicidade. Um estudante pode concluir seu projeto no tempo que julgar necessário, desde que apresente o que realizou e a que conclusões chegou no processo. Segundo os professores, alguns estudantes desistem do tema inicial ou mudam de ideia ou vontade no percurso, mas os educadores incentivam que eles concluam – ainda que não respondam a questão proposta – um trajeto de pesquisa e sistematização do conhecimento adquirido.
Além disso, são oferecidas oficinas eletivas, que são atividades complementares que os alunos escolhem por votação e também realizam de maneira coletiva. Atualmente, estão sendo ministradas oficinas de hip hop, cinema, enigmas matemáticos, ciências de laboratório, samba e um jornal da escola. Todas são oferecidas por professores da escola, que apresentam as propostas aos estudantes. No processo, apenas as mais votadas pelos estudantes são executadas. Cada estudante escolhe uma disciplina e deve participar de sua realização até o fim do trimestre, forma que a escola encontrou para corresponsabilizar o estudante pela escolha e compromisso de participação.
Para garantir a integração das áreas, todos os professores trabalham coletivamente. Para isso, as aulas são organizadas a fim de reunir professores de humanidades duas vezes por semana em atividades de planejamento e o mesmo para os de ciências. Segundo os coordenadores da escola, o processo colaborativo é trabalhoso e exige um corpo docente comprometido com a proposta – na iniciativa os educadores se dividem em turmas e conteúdos com os quais não estão necessariamente familiarizados.
No fundamental I, quando ainda há uma professora referência por turma a proposta ainda é mais trabalhosa, pois nas atividades de projetos, todos os docentes se reorganizam atendendo crianças de faixas etárias e níveis de aprendizagem diferentes.
Outro traço interessante dos projetos – tanto os pessoais para o Fundamental II, quando os de Humanidades e Ciências, no Fundamental I -, é a valorização dos saberes comunitários e cultura local. Entendendo que nem o estudante, nem o professor tem necessariamente os conhecimentos necessários para responder às questões disparadoras da proposta dos alunos, todos acessam ao máximo diferentes fontes de informação, inclusive na comunidade do entorno, nas famílias ou convidando especialistas. A ação estimula o processo de pesquisa ativa da criança e do adolescente, encorajando-o a ter compromisso com aquilo que se propõe a estudar. Além disso, a biblioteca e sala de informática da escola estão sempre com as portas abertas e são acessadas livremente pelos estudantes.
Segundo a coordenação, a metodologia de projetos exige que o professor também se aprimore continuamente, pesquisando e trazendo novos insumos para os projetos individuais dos estudantes. Como os temas são efetivamente aportados pelos meninos e meninas individualmente ou em grupo, o professor orienta projetos que vão desde “cachorros vira-lata são melhores que o de raça” à “plantas medicinais”, “quiromancia” ou “culinária”.
A escola ainda abre possibilidade para disciplinas optativas que acontecem em turno oposto. Nestas, pais, professores, educadores da comunidade ou interessados podem ofertar atividades livres e temáticas, com diferentes periodicidades e dinâmicas. No momento, há, por exemplo, uma oficina de jogos do tipo RPG (role playing game, em inglês), ofertada pelo professor de português da escola e uma de maquetes, ofertada por uma das coordenadoras da escola.
Por fim, encorajando ainda mais o trabalho interdisciplinar dos docentes, a escola realiza de três a quatro semanas temáticas por ano. Nestas, todos param suas atividades e participam juntos – crianças e adolescentes do Ensino Fundamental -, de ações coletivas. As semanas visam incentivar que toda escola abrace o mesmo tema em sintonia e discuta questões de relevância para o mundo contemporâneo e para o universo dos estudantes.
Neste ano, por exemplo, aconteceu uma semana temática que discutia os eventos que o país receberá em 2014 e 2016, as manifestações e a questão da participação social. As atividades foram variadas: de bate-papos com militantes contra a ditadura militar (1964-1985) e ativador cultural do coletivo Fora do Eixo a grupos de discussão sobre mobilidade urbana. Na ocasião, os professores das especialidades como artes, educação física e inglês também realizaram atividades relacionadas ao tema e para turmas mistas, de diferentes faixas etárias. Em outros anos, a escola realizou, por exemplo, semanas temáticas sobre Água e meio ambiente e a Arte como a marca do homem.
Assim como o currículo tem interferência direta dos estudantes, a escola entende o processo de avaliação de forma compartilhada e processual. Cada aluno mantém um portfólio e realiza sua própria auto-avaliação. Paralelamente cada estudante elege um professor-tutor, que irá acompanhá-lo na condução da sua aprendizagem, dificuldades acadêmicas e projetos de vida. Este professor realiza relatórios individuais, no qual aponta os pontos a serem melhorados e conquistados por cada tutorado.
O professor-tutor ainda é o responsável por aferir com os outros docentes como aquele estudante tem se saído no campo de conhecimento, no comportamento na escola e nas relações que estabelece com o corpo docente e demais estudantes. Os eixos temáticos são então mensurados em conceitos – de A a F -, mas seguem padrões individualizados, de acordo com cada criança. A ideia, segundo os coordenadores, é negociar com cada estudante que ele alcance o máximo que pode, que se esforce e reconheça suas dificuldades e facilidades.
Os gestores do Colégio Viver reconhecem que a conduta participativa e autônoma fomentada entre os alunos é uma contra corrente se comparada ao que normalmente acontece em outras escolas. Ainda assim, buscam pela manutenção desses espaços por entenderem o significado deles no processo formativo dos indivíduos. Além de terem a possibilidade de diálogo direto com a equipe gestora, os alunos também são convidados a participar das assembleias escolares semanais em horário fixo na estrutura curricular, momento em que eles discutem conjuntamente com os gestores uma pauta comum, acordada coletivamente, que pode dizer da condução dos processos de aprendizagem e também do uso e compartilhamento dos espaços escolares.
Os alunos do 9º ano são também responsáveis pela cantina escolar, atividade que contribui com a postura autônoma deles. São eles que gerem o local, a compra e preparo de alimentos, e atendimento durante os intervalos. O dinheiro arrecadado é direcionado para a viagem de fim de ano da turma, que também é escolhida e organizada de maneira coletiva.
Para os gestores, esse espaço está em constante transformação por conta da autonomia não ser um processo inerente; e ainda que sejam feitas adaptações, a escola procura garantir a sua realização como proposta estruturante do currículo.
A proximidade com os pais também é outra diretiva do colégio e a equipe gestora vem perseguindo isso por meio de diferentes estratégias. Há as reuniões gerais para os ensinos infantil e fundamental I e II e outra em que os familiares são convidados a discutir temas relevantes para a sociedade e para a educação juntamente com os professores. São propostas dinâmicas a partir de questões e conduzidas discussões coletivas. Como exemplo, a escola realiza discussões sobre violência, sexualidade, respeito à diversidade – todos eixos prementes para uma educação que visa o desenvolvimento integral dos estudantes.
Embora seja uma escola privada, o Colégio Viver oferece um atendimento personalizado. Para atender à diversidade socio-econômica de seus alunos, a escola estuda possibilidades de bolsas de estudo. Outra predominância é o apoio aos alunos com dificuldade de aprendizagem ou deficiência, prevendo a inclusão deles em meio à aprendizagem; esses alunos têm acesso a uma grade adaptada com apoio da equipe; também se reconhece além de um esforço por parte da equipe, o apoio dos próprios alunos em meio a esse processo.
Início e duração: Da década de 80 aos dias atuais
Local: Cotia (SP)
Responsáveis: Coordenação do Colégio Viver
Envolvidos e parceiros: pais, professores, estudantes e ativos comunitários.
Financiamento: Mensalidade escolar. Vale ressaltar que boa parte do alunado é bolsista integral ou parcial.
A escola comemora que os estudantes egressos do ensino fundamental II têm boa facilidade em se adaptar a diferentes sistemas de ensino. Dada a falta de escolas com posturas alternativas e preços muito altos das mensalidades, muitos estudantes acabam indo para escolas com abordagem mais conteudista e tradicional e Escolas Técnicas do estado. Alguns poucos optam por escolas em cidades vizinhas com abordagem mais interdisciplinar.
Em todos os casos, a maioria dos estudantes acaba alcançando bom desempenho acadêmico, pois apresentam facilidade em leitura crítica, pesquisa aplicada e, acima de tudo, autonomia no processo de estudar e aprender. Como um dos casos emblemáticos, a escola tem no seu quadro docente um ex-aluno.
Contudo, para a coordenação, os desafios de ser uma escola que se reinventa o tempo todo são muitos e constantes. Acompanhar as mudanças sociais, estruturas familiares, participação dos pais na comunidade escolar e exigências do ensino voltado aos vestibulares exige muito planejamento e discussão de todos os envolvidos. Com maior liberdade que muitas escolas públicas, a escola se ampara nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para fazer valer seu projeto pedagógico. E, como tudo se dá em construção coletiva, todos os processos, escolhas e mudanças são dialogadas e pactuadas com os pais e estudantes.
Contatos
Site: Colégio Viver
Facebook: Colégio Viver
Endereço: Rua Carlos Antonio Pereira de Castro, 891- Granja Caiapiá – Cotia (SP)
Telefone: (11) 4616-5175 ou 4616-9475
E-mail: [email protected]