A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe diversas mudanças no dia a dia das escolas. Conteúdos novos, uma distribuição diferente desses elementos ao longo dos anos e também um foco no desenvolvimento de competências e habilidades são algumas das alterações. Para que essas alterações sejam de fato implementadas, a atuação de coordenadores pedagógicos e diretores é fundamental. “É papel da gestão fornecer as condições para garantir que a equipe possa desenvolver seu trabalho”, afirma Simone Azevedo, formadora de coordenadores da Comunidade Educativa Cedac.
Leia mais no capítulo Por que gestão integrada e sistêmica de uma rede municipal?
Os profissionais que atuam fora da sala de aula, na administração pedagógica e burocrática, têm diversos desafios a enfrentar para garantir que essas condições sejam criadas. O primeiro deles é o da articulação. “Os gestores são a ponte entre o que acontece na secretaria de Educação e a sala de aula”, explica Simone. É importante, portanto, que eles compreendam o status das discussões sobre a implementação do currículo na rede onde trabalham. Algumas perguntas que podem ser levantadas são: já existe um currículo definido e aprovado? O município terá um documento próprio ou irá utilizar o documento estadual como referência? Há formações e projetos previstos para tratar do assunto?
O acesso a essas informações pode ajudar a tranquilizar os professores e os gestores a planejar uma estratégia para que a escola esteja alinhada ao restante da rede.
Na cidade de Novo Horizonte, no interior de São Paulo, as discussões sobre o tema já duram mais de um ano e meio. Nos horários de trabalho coletivo, os professores fizeram a leitura das versões preliminares da BNCC e elaboraram contribuições enviadas durante as consultas públicas realizadas pelo Ministério da Educação (MEC). “Nós não gostamos da segunda versão da BNCC no que dizia respeito à História, por isso, escrevemos uma crítica e mandamos para Brasília. Foi importante para que a equipe sentisse que estava fazendo parte da construção do documento”, conta Ademir Almagro, que atuava como coordenador pedagógico e facilitador das formações realizadas entre os professores de História até o início deste ano.
Ler para fazer
Além de conhecer as diretrizes pensadas pela rede, é fundamental que os gestores se familiarizem com o documento, ou seja, que façam leituras críticas sobre ele. “Saber o que o texto diz permite que o gestor pense quais apoios ele pode buscar para oferecer ao professor”, conta Almagro.
Há outros aspectos que dependem do domínio do documento. Por exemplo, a revisão do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola, que deve abarcar o desenvolvimento das habilidades e competências definidas pela BNCC, assim como a revisão do planejamento anual e a definição dos projetos institucionais da escola. “Muitas vezes ainda não aconteceu o movimento de sequer conhecer a estrutura da BNCC, que é bastante diferente de documentos anteriores”, explica Alex Moreira Roberto, coordenador-geral da Elos Educacional.
Saiba mais no capítulo O que são as dez Competências Gerais da BNCC?
O coordenador pedagógico, em especial, precisa estar familiarizado com o texto em todas as disciplinas para rever sua rotina de trabalho: a maneira como instrui o planejamento, os critérios para observação de aulas, e também para identificar as necessidades de formação da equipe. “O trabalho desse profissional é ampliado nesse contexto. Ele faz mediação das escolhas de materiais e propõe a reflexão sobre quais outras iniciativas a escola pode promover para dar conta das novas diretrizes”, completa Simone.
O espaço da língua inglesa
No contato com os docentes de Inglês, a atuação da gestão ganha destaque. Isso porque, devido à carga horária reduzida, as escolas costumam ter poucos professores da disciplina, que muitas vezes acabam isolados e com poucos parceiros para discutir os desafios do dia a dia. “O papel de articulador do coordenador também entra ao promover espaços que integrem esses professores”, destaca Simone.
Os momentos de formação coletiva liderados pelo coordenador devem ser estruturados de maneira a permitir que os docentes de inglês possam pensar especificamente na sua aula, mas também em como ela se conecta com a área de linguagens e ao Ensino Fundamental como um todo. “Os professores precisam pensar que o aluno é sempre o mesmo: em todas as disciplinas e ao longo da escolarização. Por isso, a reflexão e a prática docente não podem ser fragmentadas”, diz Simone. A estrutura da BNCC privilegia discussões desse tipo ao estabelecer competências gerais, competências por área – Linguagens, neste caso – e também por componente curricular.
O coordenador pedagógico pode lançar mão de diversas estratégias de formação para garantir que os professores de Inglês estejam trabalhando de maneira integrada. Uma possibilidade é formar grupos por área de conhecimento ou por ano de escolarização. Assim, a discussão pode ser feita nesses pequenos núcleos e, depois, compartilhada com o restante da equipe para que todos possam contribuir. “Como coordenador, meu papel sempre foi de acompanhar o trabalho docente para oferecer suporte na didática, dando autonomia para o professor, que conhece a fundo o conteúdo e a metodologia da sua área”, diz Ademir.
Saiba mais no capítulo Professores em Desenvolvimento
Por fim, as condições estruturais podem ser importantes especificamente na aula de Inglês. Como há uma expectativa de que os alunos possam trabalhar as habilidades de fala, escuta, escrita e leitura, o papel do diretor ganha destaque. “Ele deve buscar garantir as condições para que o trabalho pedagógico aconteça”, afirma Simone. No caso do Inglês, isso inclui se certificar de que há equipamentos (computadores com internet, rádios, projetores, ou televisões) e materiais (livros, jornais, revistas etc.) que permitam que os estudantes tenham o contato com a língua ampliado.