Educação Infantil:
A maior fragilidade é sua organização por faixas etárias mal definidas, estreitando as possibilidades da primeiríssima infância, classificando as crianças por parâmetros homogeneizadores.
Há na BNCC a predominância de uma visão da criança como observadora. As linguagens da criança e a potência da escuta e do protagonismo infantil nos diferentes contextos ficam fragilizados quando reduzem seus campos de experiência a “observar” para os bebês, “explorar” para as crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses e “criar” para as crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses. As três ações se dão concomitantemente e são indissociáveis.
As teorias mais contemporâneas sobre a primeira infância superam a visão desta etapa como de preparação, do devir, para considera-la como um tempo em si, com sua identidade e finalidade próprias.
Além disso, a BNCC deveria dar maior atenção e cuidado na passagem da Educação Infantil ao Fundamental. Ao se definir no 2º ano a conclusão do letramento, determina-se um outro: o da escolarização precoce.
Ensino Fundamental
É preciso rever a organização seriada e disciplinar. Recomenda-se a reorganização das competências específicas de cada área do conhecimento e de cada componente curricular que, na terceira versão da Base, seguiram cada qual uma lógica própria.
Áreas Linguagens
Língua Portuguesa:
A criatividade é considerada em poucos momentos em detrimento do predomínio do aspecto científico e crítico de análise do uso da língua, demonstrando uma visão muito técnica.
Além disso, o protagonismo cultural não aparece com muita força e as produções ainda são vistas como tarefa escolar sem potencial exterior explícito.
São ainda pouco valorizadas as habilidades relacionadas a compreensão da língua como um organismo vivo e de constante mudança, sobretudo nos anos iniciais, assim como as habilidades relacionadas à autonomia de compreensão de si mesmo e de outras pessoas.
Arte
Uma visão mais integrada da Arte seria favorecida se o componente não fosse segmentado nas linguagens Artes visuais, Dança, Música e Teatro, estimulando o desenvolvimento da argumentação, autogestão, autonomia, comunicação, argumentação e cooperação.
Recomenda-se ainda que se busque a articulação da Arte com a Educação Física, na perspectiva de duas componentes da área de Linguagens que trabalham com a consciência e expressão corporal, na dança, no preparo cênico e em diversas outras manifestações.
Educação Física
Ao organizar seus objetos de conhecimento por modalidades de Brincadeiras, Esportes, Ginásticas e Danças, a Educação Física proposta pela BNCC enfatiza conteúdos. Além de ser contraditório em relação às competências, esta organização fere a autonomia das unidades escolares na elaboração de seus currículos. Para superar isso, recomenda-se que se busque a articulação da Educação Física com a Arte.
A competência relativa à Argumentação, que na Educação Física está ligada a utilizar a linguagem corporal para expressar, divulgar e confrontar opiniões e ideias, é prevista uma única vez, somente no último ciclo.
Recomenda-se mais referências à cultura dos povos que constituem a grande maioria do nosso país como os índios, os europeus e os africanos, que trouxeram diversas manifestações culturais através de jogos e danças.
Língua Inglesa
Baixo compromisso com a questão da progressão necessária para a consolidação da aquisição básica de Língua Inglesa. Em todos os anos, há habilidades que apresentam graus muito específicos de conteúdos.
A sugestão é que o documento reconsidere o conceito de progressão apresentado, enfatizando melhor os graus de complexidade da estrutura da língua e a gradual ampliação de repertório.
As habilidades da unidade temática “Conhecimentos linguísticos e gramaticais” devem ser reformuladas para que não se perpetue o ensino da língua baseado em estruturas gramaticais isoladas.
Matemática
O documento pouco contribui para uma melhoria dos fundamentos e metodologias atuais da área de matemática, centrando-se especialmente na listagem de habilidades procedimentais que revelam uma articulação mais voltada aos conteúdos do que às competências e conceitos a serem desenvolvidos ao longo do ciclo.
O tratamento é desarticulado, o que dificulta compreender os diferentes campos da matemática de forma integrada, entre si e com as demais áreas do conhecimento.
Prevalece uma matemática mais voltada para o pensamento científico e abstrato do que para seus usos e aplicações na vida cotidiana. Assim, procuramos adequar as habilidades a experiências matemáticas mais voltadas para a observação e exploração dos objetos matemáticos presentes nas brincadeiras e na vida cotidiana dessas crianças, do que na inserção de um pensamento mais abstrato e rigoroso de escrita matemática.
Área Ciências da Natureza
Sugerimos inclusão de algumas habilidades relacionadas à compreensão da sexualidade humana nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Área Ciências Humanas
Geografia
É recomendável que as competências de autoconhecimento e autocuidado, empatia, cooperação e autonomia e responsabilidade estejam mais presentes ao longo dos nove anos. Recomenda-se também maior integração entre as componentes de Geografia e História.
História
Predomina na BNCC do componente curricular de História, sobretudo nos anos finais do Fundamental, uma visão cronológica, que reforça o ensino descontextualizado e pouco significativo que durante muitas décadas dominou esta etapa de ensino no país. O tempo presente, o tempo do estudante de hoje, é apenas mencionado uma única vez no último ano.
É preciso dar maior ênfase, por exemplo, para projetos de pesquisa a partir de temas de interesses dos estudantes, para os quais os conhecimentos históricos são mobilizados na medida em que são necessários. É importante que se garanta que as escolas possam organizar seus currículos orientados pela área, ou mesmo por projetos ou temas transversais e não pelas componentes, se assim seu projeto pedagógico determinar.
Contraditória ao excluir da formação fundamental na área das Ciências Humanas ,Sociologia e Filosofia saberes e práticas pertinentes ao pensamento crítico questionador necessários a base humana e das relações sociais. O Ensino Médio segue continuando com tais conhecimentos num processo mais árduo ainda naquilo que disciplinarmente e interdisciplinarmente deverá s ser construído na formação dos adolescentes.