Alcidesio Alves se tornou professor de inglês na rede estadual de educação de Pernambuco em 1997. Na época, os desafios não eram poucos, com destaque para o estigma negativo que recaia sobre a disciplina, frequentemente colocada em segundo plano. “Foi bem ruim. Eu me sentia discriminado pela maneira como a sociedade nos via”, lembra ele. Com o passar do tempo, a sensação foi se transformando. O segredo, segundo o docente, foi a aposta feita pela rede na promoção de formações continuadas. “Hoje eu me sinto muito prestigiado e valorizado”, conta.
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Segundo o estudo O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, publicado pelo British Council em 2015, 65% dos professores de língua estrangeira afirmam não ter acesso a capacitações profissionais. A fase de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) cria uma oportunidade para alterar esse cenário. O momento, agora, é de promover formações para possibilitar que os educadores conheçam e se apropriem do documento e da nova visão sobre o ensino do idioma colocada por ele.
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No entanto, promover momentos de desenvolvimento profissional que abracem o professor de Inglês e o preparem para levar as propostas às salas não é fácil. O primeiro desafio está em integrar o docente aos momentos de reflexão que já existem dentro das escolas. “O espaço escolar é o ambiente mais privilegiado para que as formações aconteçam”, destaca Rosaura Soligo, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC) da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora do Instituto Abaporu.
A legislação prevê que um terço da carga horária de todos os professores seja dedicada para atividades fora de sala de aula, que devem incluir momentos coletivos e de trabalho individual. Mas, na prática, não são raros os casos em que os responsáveis pelas aulas de inglês – assim como os de outras disciplinas com menor carga horária – não participem destes momentos ou se sintam isolados. “É papel do coordenador pedagógico qualificar esses momentos de formação”, afirma Simone Azevedo, formadora de coordenadores da Comunidade Educativa Cedac.
Foi esse investimento que a escola onde Alcidesio trabalha, a EREM Senador Francisco Pessoa de Queiroz, em Cabo Santo Agostinho (PE), realizou. O professor de Inglês está presente em todas as discussões coletivas, que acontecem sempre às quartas-feiras. Ora ele participa como ouvinte, ora compartilha experiências de formação pelas quais passou. “Quando ouço um professor de Matemática compartilhando algo que ele aprendeu, deixo a criatividade agir para pensar como posso usar aquele aprendizado na minha disciplina também”, conta.
Formação em rede
Além dos momentos de trabalho coletivo dentro da própria escola, outras oportunidades em rede devem ser ofertadas para o professor se desenvolver profissionalmente.
Em Rondônia, uma ação que começou com um pequeno grupo de professores, com apoio da embaixada dos Estados Unidos, tem gerado bons resultados. Por meio de workshops, conferências, publicações, grupos de estudo, entre outras estratégias, a BrazTesol – organização social independente formada por educadores e profissionais da área do ensino e aprendizagem de Inglês – vem fomentando o ensino da língua e o apoio profissional.
Hoje, a rede envolve 200 professores e um grupo gestor de 10 pessoas, entre representantes da secretaria, professores da rede e de universidades. A iniciativa tem tido um papel fundamental para o fortalecimento da língua inglesa no estado nos últimos dois anos, sendo um dos poucos eventos que reúne docentes de Inglês para formação e disseminação da língua a partir de um formato de rede.
Em Londrina, no interior do Paraná, os professores de inglês da rede municipal também dispõem de um momento para se encontrar e discutir sobre as especificidades da disciplina, para além dos encontros que já ocorrem nas próprias escolas com todos os educadores. “Nos reunimos mensalmente, ora com todos os docentes de língua estrangeira da rede e ora em grupos menores, separados por região da cidade”, conta Tania Motta, que atua na EM Osvaldo Cruz.
Na perspectiva de constituir “comunidades de prática”, os grupos trabalham de maneira colaborativa inspirados por um objetivo comum: promover a aprendizagem de inglês nas turmas de 1º a 5º ano do Ensino Fundamental. Cada reunião dura cerca de quatro horas e inclui diversas discussões, sempre pautadas na realidade dos educadores. “Há um espaço para leitura de textos e também momentos para compartilhar experiências, além de fazer planejamento em conjunto”, conta Tania.
A rede paranaense também apostou na parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para promover o desenvolvimento profissional da equipe. Docentes da UEL já atuaram como consultores para o ensino de Inglês e a universidade realizou testes de proficiência com os docentes da Educação Básica, com o objetivo de identificar as necessidades e oportunidades de formação. Tania conta que esse envolvimento faz toda a diferença. “Mesmo com 32 anos de docência, participo de todas as atividades porque elas trazem oportunidades muito ricas de aprender e poder transformar a minha prática”, diz.
Conteúdo da formação
Os currículos devem começar a ser desenvolvidos nas escolas a partir deste ano. Um dos principais canais serão os materiais didáticos, que nem sempre estão disponíveis para as aulas de língua inglesa. Segundo o estudo divulgado pelo British Council, 56% dos professores da disciplina afirmam não ter acesso aos livros didáticos.
Neste cenário, a importância da formação em serviço para garantir a implementação da BNCC fica ainda maior. “Além dos livros didáticos, há outros materiais que o professor deve escolher e outros aspectos do currículo – como competências socioemocionais – que não são abordados nesses materiais”, afirma Alex Moreira Roberto, coordenador-geral da Elos Educacional.
Para Maria do Carmo Ferreira, aproximar os professores do que está presente nos novos currículos deve ser o foco das reflexões. “Ainda há pouca familiaridade com a BNCC, seu conteúdo e até com o vocabulário usado”, destaca a especialista. Por isso, promover leituras atentas e discussões sobre as novas propostas pode ser um bom caminho. O importante é garantir, como já feito por diversas redes, que a prática e o cotidiano do professor estejam presentes nesses momentos. “Para ser efetiva, a formação precisa responder a necessidades reais dos educadores”, resume Rosaura.