Instituições envolvidas: Escola Técnica Estadual (ETEC) Tiquatira
Público alvo: estudantes do ensino médio
Duração: de 2013 até os dias atuais
Aos poucos eles iam chegando em uma das salas do andar superior da Escola Técnica Estadual (ETEC) Tiquatira, localizada na Penha, em São Paulo. Um, dois, três… catorze estudantes, líderes de sala, rumo ao encontro com o coordenador de curso, Marco Aurélio Pereira, que os esperava para a rotineira reunião semanal de cerca de meia hora de duração. Coletivamente, eles iam construindo a pauta, trazendo os assuntos escolares que precisavam ser debatidos e alinhados.
A principal discussão se deu em torno da Semana Tecnológica que a escola realizará na semana de 5 a 9 de outubro. No período, os alunos se organizam para expor à comunidade escolar e também aos familiares e comunidade do entorno as suas vivências e aprendizagens em formato de oficinas, como fotografia, grafite, encadernação, diagramação, currículo e moda, sendo eles mesmos os proponentes e realizadores dessas atividades. Durante a reunião, vários foram os momentos em que os líderes de turma trocavam entre si as estratégias que estão utilizando para montar as oficinas, como dicas de materiais e melhores orçamentos para adquiri-los.
Também foi pauta da reunião o retorno sobre a limpeza da área de almoço da instituição. Como a escola tem uma equipe reduzida, e parte dos alunos acaba almoçando por lá, ficou definido, a partir do interesse deles, que eles se revezariam para cuidar da limpeza local. As turmas se encarregaram, em interferência de um gestor, de construir um cronograma para a tarefa, no qual se alternam semanalmente.
Outra demanda trazida foi a do orçamento do projeto de sinalização dos espaços escolares. Os jovens sentiram a necessidade de comunicar visualmente as regras de convivência pelas áreas da escola, para garantir o cumprimento delas. Assim, as lixeiras foram identificadas com um adesivo para o destino correto do lixo reciclável, por exemplo. Os alunos do curso de Comunicação Visual ficaram incumbidos de tocar a tarefa orçamentária e socializá-la com os demais para, então, tomarem uma decisão conjuntamente.
Acho muito importante a participação porque mostra a preocupação da escola em nos formar para o mercado de trabalho e para a vida. Termos essa autonomia, poder mostrar nossas posições, nossa visão de mundo é importante porque realmente é o que precisaremos ao longo da vida. Então, se na escola a gente não mostrar, como vamos ter coragem de fazer isso depois? Aqui é nosso primeiro passo para o mundo e ficamos mais aqui do que em casa, então, ter essa abertura é fundamental.”
Isabela, 16 anos, aluna do 3º ano do Curso de Comunicação Visual
Semente da participação
Essas atividades são fruto de um movimento participativo escolar que começou a nascer em 2013. O coordenador Marco Aurélio Pereira, que também leciona Biologia na instituição, estava trabalhando, em sua disciplina, ações de proteção ao meio ambiente e sentiu a necessidade de trabalhar a temática a partir de uma perspectiva local. Ele resolveu propor aos alunos que pensassem sobre a necessidade de adequar os espaços escolares às vivências deles – a instituição atende cerca de mil jovens, parte na modalidade integrada (Ensino Técnico Integrado ao Médio – ETIM), com jornada das 7h30 às 15h30 e parte na modalidade modular, com horário vespertino (das 13h30 às 18h) e noturno (das 19h às 23h). A instituição oferece os cursos de Química, Comunicação Visual e Moda, além dos conteúdos da base curricular comum.
Inicialmente, o professor propôs reuniões com todas as salas de aula para falar sobre a proposta e deixar a demanda para que os estudantes fizessem esse levantamento de necessidades ambientais da escola. “Nesse momento, percebemos que a questão ambiental estava totalmente atrelada à questão cultural, pois vimos que precisávamos também estimular ações comportamentais, de apropriação dos espaços”, conta o educador. Com isso, entenderam a necessidade de um trabalho contínuo que justificou a criação do Grêmio Ambiental escolar e de sua primeira pasta: a ambiental.
Organização do trabalho
Entendida a demanda, o coordenador conta que o primeiro passo foi definir a formação do grupo e sua articulação. Cada sala de aula nomeou seus líderes, chamados monitores ambientais, responsáveis por desdobrar as definições do Grêmio aos demais integrantes da escola e zelar pelos espaços utilizados pela turma. O grupo entendeu a necessidade de se reunir semanalmente, por pelo menos meia hora, para acompanhamento das ações e proposição de outras novas.
Eu venho de outra escola e o que eu percebi é que lá eu tinha medo de me posicionar, porque eu me sentia oprimido. Eu não conseguia chegar na diretora e conversar de igual pra igual, e aqui eu percebi essa possibilidade. Também consigo aprender e colocar em prática aqui dentro. E vejo isso como um grande preparo para o mundo lá fora. Eu não preciso ter medo, posso falar e todos me tratam de igual pra igual. Isso faz com que eu acredite que o mundo tem chance”.
Rafael, 18 anos, aluno 3º ano do curso de Comunicação Visual.
Feito isso, o projeto do Grêmio seguiu para discussão com a diretoria e coordenação da escolar, e também com os demais profissionais da instituição, fase fundamental no entendimento de Marco. “Embora a ideia tenha nascido na minha aula, é importante fortalecer essa articulação em toda a escola, até para que a iniciativa não fique pautada pela minha figura”, avalia.
Para o coordenador, hoje o maior desafio é prover uma linguagem única e integradora em toda a instituição.
Desdobramentos
Embora o Grêmio tenha nascido com a pauta de meio ambiente, a escola o entende como propulsor dos momentos de diálogo na instituição. As reuniões do Grêmio contam, às vezes, com a participação da direção, e acabam também discutindo outras pautas da instituição, que não só as de caráter ambiental.
Para além dessa instância, é comum os alunos procurarem o coordenador pelos corredores com dúvidas ou ideias de projetos que gostariam de desenvolver, já com a fundamentação e defesa pedagógica necessária. As demandas variam de projetos de orientação sexual, a práticas de esportes ou melhoria dos espaços, como instalação de ventiladores, murais etc. O papel da gestão, nesse caso, é avaliar em conjunto com os alunos a viabilidade da proposta. Também são pensadas a estruturação de novas áreas de atuação para o Grêmio, além de meio ambiente, que hoje já se sustenta de maneira bastante autônoma na instituição.
A diretora da escola, Renata Garcia, avalia o cenário de maneira positiva. “O processo pedagógico só é construído quando todos participam dele. E o aluno deve ser o ator principal”, entende. Ela também sentencia que o modo operante não só fortalece a gestão escolar, já que ela é dada na perspectiva colaborativa e orientada também pelas ideias dos alunos, como faz com que os jovens consigam perceber as aprendizagens escolares integradas à vida e ao mercado de trabalho, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento integral.
“Claro que também faz parte desse arranjo colaborativo explicar a eles que, assim como toda instituição, nós também temos regras pré determinadas e que não podem ser descumpridas, e isso faz parte de torná-los cidadãos”, finaliza Marco.
Escola Técnica Estadual (ETEC) Tiquatira
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