A promoção da equidade racial é essencial em uma educação que visa valorizar as diversidades do ser humano, garantindo o desenvolvimento integral dos estudantes e de atitudes antirracistas. Além disso, as escolas brasileiras têm o dever de aplicar as leis federais 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008, que exigem, respectivamente, a inclusão da História e Cultura Africana, Afrobrasileira e Indígena nos currículos.
Nesse sentido, a criação de bonecos para problematização das questões raciais busca garantir a liberdade de expressão de alunos e educadores e convoca a diversidade presente nos territórios. Ao promover a história de vida do boneco – com características fenotípicas negras ou indígenas, por exemplo –, as crianças exercem sua capacidade imaginativa, trazendo elementos para discutir sobre as relações raciais existentes.
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O boneco passa, então, a canalizar interesses e humanizar o currículo educacional, a fim de discutir as relações raciais. As reflexões se iniciam com fatos que envolvem os próprios percursos de vida dos bonecos, para que, desta forma, seja possível conhecer como e o que as crianças e os professores pensam a respeito.
Além disso, o processo de criação dos bonecos pode ser realizado pelas próprias crianças, que ajudam a definir suas características e colaboram na seleção de materiais, costura e finalização dos personagens.
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Figuras de Afeto – EMEI Nelson Mandela – São Paulo (SP)
Desde 2008, o projeto “Figuras de Afeto” é o fio condutor das práticas administrativas e pedagógicas da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Nelson Mandela – localizada na zona norte de São Paulo -, e orienta as emoções e as necessidades das crianças de 3 a 5 anos da escola. Para isso, a instituição utiliza bonecos a fim de criar vínculos com os alunos e, dessa forma, aplicar as prerrogativas da Lei Federal 10.639/03.
O primeiro personagem que foi incorporado ao cotidiano da escola foi Azizi Abayomi, um príncipe africano negro. Feito de palha e com roupas de pano, o boneco foi apresentado em 2011, como uma forma de refletir coletivamente sobre as contradições, negações, incertezas e certezas absolutas da equipe docente, gestora e discente, no que diz respeito à promoção da equidade racial no Brasil.
Com uma dose de imaginação e criatividade, esse e outros bonecos já fazem parte do dia a dia escolar, mostrando que racismo é coisa séria, mas pode ser tratado de forma lúdica. A inserção de bonecos como estratégia pedagógica para o desenvolvimento de projetos didáticos revela-se eficaz, porque respeita a capacidade imaginativa das crianças e, ao mesmo tempo, comprova que o protagonismo infantil é capaz de revolucionar as relações humanas no ambiente escolar, conferindo significado aos conhecimentos construídos pela comunidade educativa.
Por esse motivo, as discussões sobre as relações raciais, as diferentes configurações familiares e as questões de gênero sempre se iniciam com fatos que envolvem, inicialmente, a família Abayomi, para que se identifique como pensam as crianças, os familiares e os professores sobre essas e outras temáticas. Afinal, a crença é a de que Azizi Abayomi, sua esposa Sofia e seus filhos Dayó e Henrique ganham vida durante a noite e são grandes provocadores de aprendizagens.
Vale ressaltar que o trabalho com a lei 10.639/03 precisa ser compartilhado por todos na escola, porque trata das relações humanas. Portanto, não é recomendável que fique restrito a uma sala de aula. Um professor que pretende discutir as relações étnico-raciais precisa reconhecer a história de vida de suas crianças, porque são estas que darão vida às figuras de afeto que pretende abraçar.
Para saber mais detalhes sobre o trabalho realizado na EMEI, assista a reportagem.
Confira, também, outras reportagens que trazem mais detalhes desta prática:
Bonecos para promover a identidade étnico-racial – CEI Palmira dos Santos Abrante – São Paulo (SP)
Desde 2012, a professora Maria das Graças, juntamente com a equipe docente e gestora do CEI Palmira dos Santos Abrante, localizado na zona sul de São Paulo, busca problematizar a construção da identidade étnico-racial entre as crianças da creche. Para isso, foram criados bonecos com diferentes características físicas, a fim de contemplar a diversidade étnica presente no Brasil.
Com a possibilidade de levarem casais de bonecos inter-raciais – em que Nando é um boneco branco; Malu, uma boneca negra; Eduardo, um boneco negro; e Nenen, uma boneca branca e loira – para passar o fim de semana na casa das crianças, as famílias são diretamente envolvidas nas discussões. Inclusive, são motivadas a brincar com os bonecos, a fim de conhecer e colaborar para o empoderamento étnico-racial dos pequenos.
Esta prática colabora para o desenvolvimento integral dos estudantes, uma vez que, ao brincar, as crianças passam a estabelecer suas rotinas compartilhadas com os bonecos. Ou seja, se irão se alimentar, dão de comer aos brinquedos; se trocam de roupa, também o fazem com os bonecos, e assim por diante.
Para saber mais
Textos:
– Cultura, matéria-prima da educação
– O Processo de Socialização na Educação infantil: A Construção do Silêncio e da Submissão
– Bonecas, diversidade e inclusão: brincando com as diferenças
– O Lúdico na Educação Infantil: Jogar e Brincar, uma forma de educar
– Um estudo sobre crianças negras no contexto da Educação Infantil