Experiências

ACESSE: Inovação, Tecnologia e Arte Contemporânea para a transformação do Ensino Médio

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Iniciativa do Sesi e do Centro de Referências promove formação docente para o desenvolvimento de práticas pedagógicas com ênfase no STEAM

Um muro com relatos das vivências de refugiados no Brasil, um festival com documentários de curta duração produzidos por estudantes, cadernos de campo que narram memórias afetivas e do território, pontes construídas pelas turmas a partir da integração da Matemática, da Linguagem e das Ciências Humanas, em pesquisa que vai da Engenharia ao Design, passando pela discussão sobre mobilidade urbana e repertório cultural. É por meio de projetos como esses que 266 educadores de 31 escolas em 10 estados brasileiros, que já participaram do programa ACESSE – Arte Contemporânea e Educação em Sinergia no SESI, conduziram os processos de ensino e aprendizagem com seus estudantes. Agora, os materiais e referenciais do Programa, que visa preparar os educadores para ampliar oportunidades de experimentação nas escolas, estão disponíveis para todos os professores do Brasil, de forma gratuita e digital.

Projeto Muros Invisíveis, que relata experiências de refugiados no Brasil

Fruto da parceria entre o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Centro de Referências em Educação Integral, a formação visa apoiar a inovação pedagógica e a implementação do STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte+Design e Matemática) nas escolas de Ensino Médio, a partir de metodologias que tenham a arte contemporânea como disparadora de articulações entre as diversas áreas de conhecimento. 

“A arte, enquanto área do conhecimento, tem muitas contribuições, mas no ACESSE ela vem como uma forma de produzir conhecimento em diálogo com outras áreas. Isso porque o artista contemporâneo lida com as temáticas atuais, o que a escola também precisa fazer e, a partir disso, ele pesquisa, experimenta e usa técnicas e materialidades para expressar o que quer provocar em relação àquilo. Esse é o processo por meio do qual é possível ensinar, por ser uma possibilidade de construir conhecimentos plurais, que trazem significado e estão em diálogo com as pessoas e territórios”, explica Maria Antonia Goulart, que integra a equipe de coordenação do programa.  

Em um mundo que exige cada vez mais pensamento crítico e a mobilização simultânea de diferentes competências e habilidades, outras formas de ensinar e aprender são necessárias, ainda mais considerando o desafio brasileiro de implementar o Novo Ensino Médio que, orientado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reforça a necessidade de uma formação humana integral para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

“Precisamos estar antenados à contemporaneidade para sobreviver no mercado profissional fazendo algo que gosta e acredita, mas também para promover uma educação que possibilite descobertas e soluções para os problemas que vivemos hoje”, afirma Cláudia Martins Ramalho, gerente de Cultura do Departamento Nacional do SESI.

“Antes, tudo era na base de decorar conteúdos, mas a relação entre os conhecimentos, a escola e o mundo mudou. Precisamos estar antenados à contemporaneidade para sobreviver no mercado profissional fazendo algo que gosta e acredita, mas também para promover uma educação que possibilite descobertas e soluções para os problemas que vivemos hoje. O ACESSE procura trazer isso ao se apropriar da característica que a arte contemporânea tem de desnudar contextos, situações e faz pensar sob diferentes lógicas”, complementa Cláudia Martins Ramalho, gerente de Cultura do Departamento Nacional do SESI.

Lançado em agosto de 2021, o ACESSE também pode apoiar as redes educacionais e escolas na missão de olhar para as rupturas causadas pela pandemia de Covid-19 e construir novas conexões e possibilidades de futuro, de forma a garantir os direitos de todas e todos os estudantes. “A partir da pandemia teremos uma nova realidade, sobretudo no paradigma do uso das tecnologias digitais, e a arte contemporânea ajuda os professores a compreenderem as possibilidades disponíveis e os estudantes a desenharem esse novo mundo”, observa Wisley João Pereira, Gerente Executivo de Educação Básica do SESI.

Na conversa, a professora Regina Pinto de Carvalho mostra as conexões entre a Física e a Arte, a exemplo das articulações que o ACESSE propõe.

Como funciona o ACESSE

O programa de formação de professores possui uma série de materiais didáticos disponibilizados no site do ACESSE de forma gratuita. Há um Caderno do Professor, que traz os fundamentos do programa, Cards Temáticos, com referências e assuntos que podem inspirar ações nas escolas, Cards Metodológicos com o passo a passo das estratégias vivenciadas para que outros educadores possam experimentar, e um banco de experiências onde estão compartilhadas ações e desdobramentos do programa nas escolas participantes. 

“O professor pode experimentar ser aprendiz dessa forma de aproximação do currículo com o cotidiano, com a vida, com seus interesses e temas que movem a comunidade, misturando diversas tecnologias, analógicas ou digitais, e explorando possibilidades de pesquisa”, explica Maria Antonia. 

Para que todo esse trabalho dê certo, algumas condições são necessárias. É preciso, por exemplo, que a rede ou escola ofereça a formação em serviço garantindo espaços e tempos para trocas de experiências, planejamento e trabalho coletivo dos professores.

Professores que já participaram do programa ACESSE experimentando diferentes materiais e recursos para criarem suas próprias produções.

“A formação depende especialmente dos educadores aderirem à proposta, porque senão vai ser como cumprir uma receita de bolo. O ACESSE não é isso; temos características e premissas importantes, mas quem desenha o novo bolo, que nós nem sabemos que existe, são os professores e os estudantes, e muito de acordo com as demandas de cada comunidade e território”, destaca Wisley. 

O programa também considera, com igual relevância à inovação, a potência que a prática de cada professor já possui. “Não sei se o ACESSE transforma uma prática ou se favorece que o que já existe ali possa emergir, muito a partir de conversas que vão gerando outros caminhos”, pondera Noale Toja, uma das formadoras do programa que está em desenvolvimento em escolas da rede SESI por todo o Brasil. 

“No trabalho com os professores, percebo que a formação faz sentido para eles e emociona. Eles contam o quanto passam a escutar mais os estudantes, a olhar para a realidade local”, relata Soraia Melo, também formadora do programa. Nas experiências em andamento, a formadora Tatiana Martins diz notar, ainda, que as transformações não se restringem à escola. “Muitos educadores descobriram que criam e passaram a levar isso para fora da escola, para a casa, com os filhos, para sua própria vida.” 

Como surgiu o ACESSE?

Em 2004, a artista brasileira Paula Trope venceu a primeira edição do Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, uma iniciativa da indústria brasileira, com o projeto “Sem Simpatia”. Ela fotografou os meninos do Morro do Pereirão, no Rio de Janeiro (RJ), ao lado das maquetes que eles construíram para reproduzir seu entorno, e deu a eles câmeras fotográficas pinhole para que eles registrassem seus olhares sobre o território. 

A artista Paula Trope ao lado de uma de suas fotografias do projeto “Sem Simpatia”.

A partir disso, o SESI desenvolveu com eles uma série de debates e atividades envolvendo diferentes áreas do conhecimento, como a Geografia para leitura de mapas. O engajamento dos meninos foi tão grande que demonstrou o potencial de unir arte e educação. “Ao longo dos anos, fomos reunindo um grupo de especialistas para desenvolver projetos educativos ligados ao Prêmio e, agora, isso se constitui em uma formação para educadores que pode chegar mais longe”, conta Cláudia.

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