publicado dia 01/07/2016

Professora argentina escreve a Messi: “não desista”.

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“Leonel Messi:

Provavelmente você jamais leia esta carta. Mas escrevo de qualquer forma, não como torcedora de futebol, mas como docente argentina, essa profissão que escolhi e que me apaixona, assim como sua profissão a você. Poderia escrever sobre a maravilha de seus talentos no esporte mais amado em nosso país, sobre o prazer que me proporciona ser de uma das gerações que podem te ver distribuir magia pelas chuteiras, sobre a admiração que você desperta em cada um dos meninos de todo o mundo. Mas tudo isso seria repetir frases feitas.

Por isso vou escrever para que você me ajude em um desafio muito mais complexo do que aqueles que você enfrentou até agora. Quero que me ajude na difícil missão de formar as condutas dessas crianças que te veem como um herói da bola e como um exemplo a seguir. Por mais amor e dedicação que eu coloque no meu trabalho, jamais terei dos meus alunos essa maravilhosa fascinação que sentem por alguém como você. E hoje verão ao seu maior ídolo se render.

Peço que você não dê esse gostinho aos medíocres, a esses frustrados que por causa de suas milhares de metas não alcançadas voltam seus rancores a um jogador; a esses que opinam sobre tudo e todos porque é fácil e gratuito. E isso está te dizendo uma professora que, com o abismal espaço que nos separa, lida com esse leviano costume argentino de crer que o trabalho dos outros é fácil, que meter gols é tão simples como construir uma casa ou formar o futuro de uma pessoa. Essa doentia necessidade de sempre falar de algo que não se sabe, de nos colocar no lugar de juízes insensatos que sentenciam com desprezo e arrogância o desempenho do outro, pondo como valor apenas as vitórias e considerando os erros como fracassos, esses mesmos erros que nos fazem humanos em aprendizagem contínua.

Por favor, não desista, não faça eles pensarem que neste país só importa ganhar e sair em primeiro. Não mostre que, por mais que uma pessoa colha sucessos na vida, nunca terminará de agradar aos demais e, pior ainda, não faça eles sentirem que devem viver para agradar aos demais. Não passe essa mensagem errada de que, apesar de tantas adversidades superadas, apesar de lutar desde muito pequeno para ser o homem triunfador de hoje, apesar de assumir responsabilidades desde muito novo e de ter lutado até contra problemas físicos para conquistar seus sonhos, todo esse esforço se torne opaco diante da crítica de invejosos que no fundo só desejam ser como você.

Se você, que teve sua família te acompanhando, tem um rico patrimônio pessoal e apoio de tanta gente, não consegue, como as crianças poderão crescer sentindo-se capazes de continuar adiante, a pesar das batalhas que dia a dia precisam enfrentar?

Eu não falo para eles do Messi que joga futebol maravilhosamente, mas do que praticou milhares de tiros livres depois dos treinos para conseguir encaixar a bola naquele ângulo inalcançável para qualquer goleiro; falo do Messi que suportou, quando criança como eles, dolorosas agulhas para ir atrás do que amava; falo do Messi que, com todo dinheiro que ganhou, ajuda crianças iguais a elas na superação de diversas dificuldades; falo do homem Messi que formou uma família e lida todos os dias com o papel mais importante, o de ser um bom pai; falo do Messi que impede que um fã que o surpreende em plena partida saia dali machucado; falo do Messi que pode equivocar-se até mesmo errando um pênalti porque de falhas estamos feitas as pessoas e isso mostra que até o maior de todos tempos é imperfeito.

Não se renda, não guarde a camiseta com as cores de nossa Pátria porque, quando você a coloca, se converte em um argentino a mais que representa a todos; e nem todos esperamos medalhas e taças para nos sentirmos maravilhosamente orgulhosos de você. Não faça com que as crianças pensem que ficar em segundo é uma derrota, que o valor das pessoas está em quão cheia estejam suas vitrines, que perder uma partida é perder a glória. Meus alunos necessitam entender que os mais nobres heróis, sem importar se são médicos, soldados, professores ou jogadores de futebol, são os que dão o melhor de si mesmos para o bem-estar dos outros, mesmo sabendo que ninguém os valorizará por isso, sabendo que, quando se triunfa, este é de todos, mas quando se falha, o fracasso é só de um que, mesmo assim, tenta.

Mas, sobretudo, temos heroísmo e honra quando lutamos e superamos as perdas com coragem e integridade, ainda que com todo universo nos dizendo que não vamos conseguir. E um dia se encontram com a maior das vitórias: ser feliz sendo eles mesmos, sem reclamar quantos demônios tiveram que enfrentar para triunfar. Todos falam de “bola”, eu creio na fortaleza do seu “coração”.

Por Palabra Maestra

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