publicado dia 12/11/2015

Estudantes reagem a processo de reorganização e ocupam escolas em São Paulo

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As pessoas que transitam pela esquina da rua Teodoro Sampaio com a Avenida Pedroso de Morais, na Zona Oeste da capital de São Paulo, têm a impressão que existe uma ameaça de bomba tamanho o aparato policial no local. O quarteirão todo está cercado por pelo menos 100 policiais militares e 10 viaturas.

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Estudantes ocupados observam policiais militares que cercam a escola Fernão Dias

Ao contrário do que parece, os policiais militares não estão cercando um local com ameaça de bomba, mas uma escola ocupada por cerca de 30 alunos. Ninguém entra e quem sai não é autorizado a voltar. Comida, água, pasta de dente, shampoo entram em sacolas desde que sejam revistadas por policiais militares.

Os estudantes da Escola Estadual Fernão Dias decidiram ocupar a escola na virada do domingo para segunda-feira contra o processo de reorganização escolar promovido pelo governo estadual.

Inicialmente estavam presentes cerca de 100 adolescente, mas ao longo do dia muitos deles saíram por pressão das famílias. Deixaram o interior da escola, mas acamparam em frente para manifestar apoio junto a diversos outros estudantes e representantes de movimentos sociais.

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Os estudantes que saem são obrigados pela Polícia Militar a preencherem uma ficha com seus dados e de seus familiares. Os adolescentes também são filmados pelos soldados para facilitar a identificação de quem participou da ocupação.

Segundo o delegado do 14º Distrito Policial, Roberto Kraesovic, quando a ocupação chegar ao fim, a escola será vistoriada pela polícia civil e os dados coletados serão utilizados para apontar eventuais responsáveis por danos.

Apesar de jovens, os estudantes que ocupam o Fernão Dias não se intimidam com a ostensiva presença policial e pendurados nas grades da escola participam da agitação promovida pelos que estão acampados na rua.

Estudantes e movimentos sociais acamparam na frente da escola para prestar solidariedade.

Estudantes e movimentos sociais acamparam na frente da escola para prestar solidariedade.

A coragem dos jovens parece vir dar certeza de que outras escolas seguirão o exemplo da Fernão Dias no questionamento do processo de reorganização escolar.

Tanto cresce que no mesmo dia da ocupação do Fernão Dias, outros estudantes também entraram na Escola Estadual CEFAM em Diadema. A Escola Estadual Salvador Allende, na zona leste de São Paulo, a Valdomiro Silveira, em Santo André, a Escola Estadual Professsora Heloisa Assumpção, em Osasco e  Escola Estadual Castro Alves, na Zona Norte da capital, também foram ocupadas na manhã de hoje (12).

A estudante MN do 3º ano do Ensino Médio do Fernão Dias diz que os estudantes só vão desocupar a escola quando o governo parar com o processo de reorganização escolar.

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Cartaz mostra apoio a mobilização estudantil

“A reorganização escolar só serve para lotar salas de aulas e diminuir o número de professores. Se tem escolas e salas de aula ociosas porque o Alckmin não reduz o número de alunos por sala ao invés de fechar escolas?”, questiona a estudante de 17 anos que está dentro da ocupação, mas preferiu não se identificar por medo de sofrer retaliações.

Ela explica que estudantes de diversas escolas estaduais organizaram dezenas de atos após o anúncio da reorganização escolar.  “Nós já estávamos avisando nos atos que se a reorganização avançasse nós ocuparíamos as escolas”, lembra M.N.

Na manhã de hoje (12), o secretário estadual de educação, Herman Voorwald, enviou uma van para a escola e propôs aos estudantes que todos saíssem da ocupação para uma reunião com ele. Os adolescentes não concordaram por medo que a medida fosse apenas para retirá-los da escola. No lugar, os meninos propuseram que o secretário os encontre no espaço da escola, como declarado por uma estudante em vídeo publicado pelo Jornalistas Livres.

Organização da Ocupação 

A polícia militar está impedindo o acesso das pessoas as dependências da escola, mas a estudante M.N relatou ao Centro de Referências em Educação Integral o funcionamento da ocupação em uma conversa que ocorreu ao lado da grade que separa a rua da escola.

Dentro da ocupação, os estudantes tem uma divisão de trabalho e mantém a escola limpa. Os espaços e os locais que tem documentos, como a sala dos professores e da diretoria, estão trancados.

crédito: jornalistas livres

Suplicy foi a Escola Fernão Dias prestar solidariedade aos estudantes

Às noites eles se revezam para dormir em 15 colchonetes trazidos pelo Secretário Municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, na noite de segunda-feira.

A comida é preparada na cozinha com alimentos comprados pelos estudantes e apoiadores que estão acampados do lado de fora. As decisões são tomadas por meio de assembleias realizadas muitas vezes por dia. Dentro da escola existem chuveiros que estão sendo utilizados pelos estudantes para tomar banho.

Desocupação 

No fim da manhã de hoje (12), o juiz da 5ª vara de Fazenda Pública, Luis Felipe Ferrari Bedendi, concedeu uma liminar solicitada pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo e deu até 24 horas para que os estudantes desocupem o Fernão Dias.

“Com relação à reintegração, defiro o prazo de 24 [vinte e quatro] horas para que as pessoas que ali se encontrem desocupem o prédio espontaneamente, a partir do que serão coercitivamente retiradas”, decidiu o juiz na liminar.

Caso os estudantes decidam permanecer ao fim desse prazo, o juiz autorizou o uso da força para retirar os adolescentes do local.

A decisão foi motivada pela ocupação da Fernão Dias, mas o juiz estendeu a liminar para todas as unidades que estão ocupadas e que podem vir a ser ocupadas nos próximos dias.

“Em síntese: necessária a determinação de reintegração de posse em relação à Escola Estadual Dias Paes Leme, porque situada na Capital, bem como a extensão do interdito proibitório, em face da APEOESP e das demais pessoas indeterminadas, a todos os prédios de escolas estaduais da Capital”.

Escolas ocupadas mostram que outra educação é possível e necessária

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