publicado dia 12/09/2013

Para especialistas, colaboração e acolhimento na Educação Integral são estratégias fundamentais

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O ser humano vive uma busca incessante de sua identidade. Por isso, procura por grupos ou tribos onde as pessoas tenham gostos  e objetivos em comum aos seus.  Afinal, quando os sujeitos se identificam uns com os outros, é construída uma relação de afetividade que amplia a interação e, assim, o compartilhamento de ideias e anseios.

Isso pode ser observado, por exemplo,  no mundo virtual, onde as próprias ferramentas das redes sociais aproximam indivíduos com interesses semelhantes. Diante deste contexto, os processos de aprendizagem também caminham para modelos nos quais estudantes passam a construir o conhecimento junto aos seus colegas, buscando a construção autônoma e colaborativa do conhecimento.

Exemplo disso é o Programa de Educação Integral carioca Ginásio Experimental, no qual os alunos mais velhos tornam-se verdadeiros anfitriões dos que irão iniciar o novo ano letivo. A metodologia, conhecida como Acolhimento, tem como objetivo realizar, durante a primeira semana de aulas, um momento de troca de experiências entre  estudantes a partir da fala de quem viveu um processo da Educação Integral. “Os antigos alunos acabam influenciando os novos ingressos, principalmente porque servem de modelo para as construções de relação dos que acabaram de chegar com a escola. Quando um conta, o outro acaba sendo  seduzido para um mesmo caminho”, diz Bárbara Portilho, diretora do Ginásio Experimental Carioca Rivadávia Corrêa.

Estudantes do Ginásio Experimental Rivadavia Corrêa

Estudantes do Ginásio Experimental Rivadavia Corrêa. Crédito: Divulgação

Para a coordenadora pedagógica de implantação de programas de Educação Integral do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE), Thereza Barreto, a diferença entre um professor e um adolescente, é que este último sabe muito mais que o que a teoria conta, já que traz a vivência e prática do projeto. “Não existe nada mais genuíno do que  um projeto ser apresentado por jovens que vivem os benefícios da iniciativa, o que dá mais credibilidade e solidez”, aponta.

Um dia de acolhimento

Estevão Almeida, 16, chegou à escola Rivadávia Corrêa na 8ª série do Ensino Fundamental. Não conhecia ninguém e, para o estudante, tudo era muito novo e estranho ao mesmo tempo. Foi quando vivenciou, pela primeira vez, o processo de acolhimento. “A diretora reuniu todos os estudantes de uma das turmas e fez uma dinâmica, o que facilitou a comunicação entre eu e meus colegas de classe. Pude conhecê-los melhor e aprender a respeitar as diferenças e trabalhar em equipe”, conta o estudante.

Para Estevão, passar pelo processo inverso no ano seguinte, como acolhedor, foi ainda mais interessante do que ser acolhido, já que esta é uma oportunidade do estudante mais velho de colaborar com outra pessoa nos projetos que  irá construir dali em diante. “É legal tirar a timidez da pessoa, o aluno chega lá com o olhar espantado, sem nem saber onde é o banheiro, aí você pode ajudá-lo a desenvolver alguns projetos, a realizar dinâmicas, mostrando o que pode e não pode fazer na escola”.

Estudantes que ensinam estudantes

Escola de Cotia (SP) incentiva colaboração

No projeto Âncora, escola do município de Cotia, em São Paulo, os estudantes também contam com a ajuda dos colegas para aprimorar o próprio conhecimento. Em cada espaço educativo, há uma um cartaz dividido por suas colunas, nos quais os estudantes podem pedir ajuda ou dizer em quais áreas do conhecimento podem ajudar. Aqueles que podem auxiliar dizem quando, onde e em qual horário podem se encontrar com os colegas para o estudo.

Além dessa acolhida na chegada da escola, o Ginásio Experimental possui também um projeto de monitoria acadêmica, momento destinado a estudantes colaborarem com os colegas em disciplinas nas quais cada um tem mais facilidade de aprendizado.

Estevão ensinava aos seus colegas matemática e participava de grupos de estudo em Língua Portuguesa. Para o estudante, muitas vezes, o aluno tem receio de perguntar ao professor, pois tem vergonha do restante da turma. “As pessoas costumam achar o professor um ser superior, um Deus, e têm vergonha de perguntar na frente dos outros. Mas ninguém sabe tudo, todo mundo tem muito a aprender. Eu, por ser uma pessoa mais próxima, diminuía a vergonha do meu colega de perguntar”. Barreto conta que o processo de acolhimento foi idealizado no processo de implementação do Ginásio Experimental Pernambucano, em 2004, a partir da proposta de fomentar a autonomia, solidariedade e competência nos estudantes, além de mostrar que a escola pode ser o espaço onde os objetivos podem ser alcançados. “Quando colocamos o jovem como protagonista, mostramos que ele também pode ser parte da resolução de problemas, e não um problema, como geralmente é apontado”.

Acolhimento para todos

No Programa de Ensino Integral de São Paulo, o acolhimento serve também aos novos professores ou funcionários. Saiba mais sobre essa experiência aqui.

 Em São Paulo, o Programa de Ensino Integral ainda não possui um projeto formalizado de colaboração entre os estudantes. Porém, por meio dos clubes juvenis incentivados, os próprios jovens criaram grupos de estudo para auxiliar os que têm dificuldade ou desejam aperfeiçoar o conhecimento para exames como o Ensino Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Isso é resultado do nosso objetivo com o programa, que é o de tornar o jovem autônomo e solidário. Para ele ajudar o outro, ele deve ter essa competência. E quando ele passa a ajudar é porque alcançou essas competências,  sua autonomia e também a solidariedade”, diz a coordenadora do programa, Valéria Souza.

“A educação integral não é uma tecnologia social, é uma nova forma de viver a vida”

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