publicado dia 03/12/2013

“A tímida evolução não nos exime do senso de urgência com as políticas públicas de educação”

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“Evoluímos timidamente, mas isso isso não nos exime do nosso senso de urgência para com as políticas públicas estruturantes da educação”. A colocação é da gerente de projetos estratégicos do Todos pela Educação Andréa Bergamaschi. A especialista foi convidada para avaliar o cenário do Pisa 2012 que teve os dados anunciados nesta terça-feira, 3 de dezembro. O Brasil ficou na 55ª posição em um ranking que avaliou 65 países, entre convidados e 34 membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em entrevista exclusiva ao Centro de Referências de Educação Integral, Andréa falou sobre o papel da avaliação frente à educação e como possível indutora de políticas públicas educacionais. A especialista também avaliou os resultados com base nas áreas do conhecimento, leitura, matemática e ciências.

Embora o Brasil tenha ocupado no Pisa 2009 a 54ª posição, em 2012, alcançou a 55ª e, mesmo assim, o governo e parte da mídia fala em crescimento. Para Andréa, não é possível fazer a comparação devido aos diferentes contextos de realização da avaliação – enquanto a de 2009 teve como foco a leitura, a de 2012 avaliou principalmente a matemática. A especialista reconhece um avanço, embora tímido. “E isso diz respeito à maior inserção de crianças na escola”, avalia.

A especialista aponta que a inserção de crianças tardiamente no sistema educacional, implica em uma carga de dificuldade de aprendizagem, “o que inevitavelmente puxa a média para baixo”, esclarece. Para Andrea há pontos de atenção, mas a inclusão é positiva do ponto de vista que “escola de qualidade é aquela acessível para todos”.

Acompanhe a avaliação da gerente

Centro de Referências: O Pisa acaba por comparar países com realidades econômicas e educacionais bastante diversas. Como avalia essa questão, tendo em vista o objetivo da avaliação de contribuir para a redifinição e melhoria das políticas públicas nesses territórios?

Andréa Bergamaschi: Toda comparação tem que ser feita com cuidado e relativizada. É inegável que os países não partem do mesmo patamar, basta considerar o modelo socioeconômico e educacional da China, Cingapura, Finlândia. Comparar o Brasil a esses países hoje, pouco agrega. Acredito que a questão seja olhar para a história dessas localidades, quando em dificuldade com o cenário educacional, e entender o que eles desenvolveram para chegar onde estão. Isso quer dizer conhecer as políticas públicas postas em práticas e avaliá-las com base em nossa realidade. Vejo que os resultados do Pisa servem para mobilizar a sociedade para a possibilidade de uma condição melhor. E, nesse sentido, vejo alguns avanços principalmente no que diz respeito às pesquisas acadêmicas que colocam luz sobre assuntos como formação do professor, e acesso a uma base curricular nacional.

CR: Mesmo com ganhos na performance em Matemática – o Brasil saiu de 356 pontos em 2003 para 391 em 2012 -, o Pisa aponta desafios em relação ao seu aprendizado. Os níveis de proficiência apontam defasagem no número de alunos. O que isso reflete?

Andréa: Reflete, sobretudo, um cenário nacional, já evidenciado pela Prova Brasil e Saeb. Em 2011, se evidenciou que dos alunos que terminaram o ensino básico 11% sabiam matemática. Nesse sentido, o número não foi uma surpresa. Precisamos investir nas dificuldades de aprendizagem a partir de políticas estruturantes que tenham foco no currículo, na formação de professores. O Plano Nacional de Educação traz metas importantes nesse sentido.

CR: Em relação à leitura, os resultados mostram defasagem em seu nível máximo, que diz sobre a falta compreensão de um texto tanto em sua forma, como em seu conteúdo, sem possibilidade de uma análise elaborada a seu respeito. Como você avalia esse cenário?

Andréa: Essa defasagem também já era indicada pela Prova Brasil e, posteriormente pela Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). A questão é avaliar o porquê dessa dificuldade. O Brasil ainda tem um histórico socioeconômico complicado – quase metade da população brasileira não concluiu a educação básica. Nesse sentido, a família acaba por não incentivar essas práticas. Então, a escola tem que ser boa para cumprir o seu papel de política compensatória.

CR: E sobre o desempenho em ciência, em que também registramos melhoria na pontuação, como você observa os índices de aprendizado da área no Brasil?

Andréa: Geralmente, o professor de ciências não tem essa formação específica. Isso revela a baixa adesão aos cursos de licenciatura, ineficientes na grande maioria. Por isso, volto a reforçar a necessidade de políticas estruturantes que sustentem as necessidades básicas da educação. Temos também que pensar que as crianças passam pouco tempo na escola, uma média de nove anos. Não podemos lidar com o conforto de dizer que as mudanças educacionais levam tempo. As crianças não podem esperar.

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