publicado dia 04/10/2013

“A educomunicação é uma ponte entre as pessoas e o conhecimento”, diz especialista

por

“A Educomunicação pode transformar a vida das pessoas”. É assim que Carlos Lima, coordenador do Programa Nas Ondas do Rádio, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, inicia sua fala quando o assunto é o papel da comunicação no espaço escolar.

Em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral, Lima falou do papel das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem e como a educomunicação pode abrir novos espaços de diálogo dentro da escola.

Na capital paulistana, o Programa Nas Ondas do Rádio serviu de base para a criação da Lei Educom – Educomunicação pelas ondas do rádio, sancionada no ano de 2005, que prevê que as escolas da rede possam adotar a prática radiofônica em seu projeto pedagógico. Para tanto, o programa oferece os equipamentos necessários para implementação da rádio escolar, estimulando que o processo de planejamento e gestão do instrumento faça parte do currículo da unidade.  As rádios escolares são destinadas a todos alunos, professores e comunidade, que podem utilizá-la para apresentar programas de informação, entretenimento, músicas e prestação de serviço, sendo também um espaço onde o professor pode divulgar as atividades desenvolvidas na sala de aula.

Centro de Referências em Educação Integral: Como um projeto de Educomunicação pode transformar a cultura escolar?

Carlos Lima: A Educomunicação transforma a vida das pessoas que participam desse processo, pois oferece a oportunidade de, ao mesmo tempo, absorver a bagagem cultural do estudante e ampliar seu acesso a conhecimentos que vão além do oferecido nas outras disciplinas. Abre um mundo que pode ser acessado pela web, na biblioteca ou até mesmo em um bate-papo com pessoas da comunidade.

Carlos em palestra sobre o programa. Crédito: Divulgação

Carlos em palestra sobre o programa. Crédito: Divulgação

CR: Como a Educomunicação pode abrir espaços de diálogo dentro da escola entre toda a comunidade escolar?

Carlos Lima: É preciso estimular o desenvolvimento de projetos como rádio escolar, produção de vídeo,  fotografia, jornal, fanzine, história em quadrinhos, criação de agências de noticias, como acontece com o projeto Imprensa Jovem, pois esses projetos podem potencializar a comunicação comunitária, a gestão da comunicação e do conhecimento no espaço escolar, assim como a integração entre a escola e a comunidade. São formas de tornar público o que se produz dentro e fora da escola.

CR: Qual o papel das ferramentas de comunicação (TICs) dentro da escola?

Carlos Lima: Em uma perspectiva educomunicativa, as TICs proporcionam recursos para o desenvolvimento da expressão comunicativa e criativa de crianças, adolescentes e adultos, incluindo os educadores. Seja por meio do uso de aplicativos ou em navegações na internet, a diversidade é o que permite potencializar a construção de conhecimentos. Neste sentido, as TICs se tornam aliadas no desenvolvimento intelectual do aluno. Não podemos abdicar do uso destes recursos na escola, já que estes já fazem parte do dia a dia das pessoas. No entanto, essas ferramentas devem ser vistas como recursos; é a mediação tecnológica e a produção colaborativa que garantem o desenvolvimento criativo  e comunicativo.

Comunicação pela paz

Criado pela secretaria municipal de educação de SP, o Programa Educomunicação surgiu com o propósito de melhorar e integrar a comunicação entre as escolas municipais da cidade. Para além desse aspecto, o projeto teve também como intuito incluir ferramentas de comunicação no currículo escolar, para promover uma cultura de paz em escolas localizadas em regiões com altos índices de violência.

CR: Como os processos educomunicativos podem aproximar a comunidade do entorno do espaço escolar?

Carlos Lima: Os processos educomunicativos são balizados pelo diálogo. Neste sentido, os projetos e ações promovidos pelos projetos de Educomunicação possibilitam a aproximação da escola com sua comunidade. Isto é possível a partir da produção de conteúdos pelos próprios agentes da comunidade: os alunos.

Eles conhecem sua comunidade porque vivem lá. A cultura desse espaço flui naturalmente entre eles e resulta em uma produção que é a própria identidade dessa comunidade. Para que isto ocorra,  a escola precisa oferecer espaços de autonomia criativa para este estudante. Quem deverá determinar o melhor conteúdo para as produções midiáticas é a própria comunidade a partir da criança ou adolescente.

O papel do educador é mediar o processo de produção do seu planejamento, passando pela autoria, até sua veiculação. Não cabe nem ao professor e nem à escola determinar o que sua comunidade deve ouvir e ver, mas sim favorecer a produção de conteúdos que respeitem a cultura e pluralidade cultural deste local. Só assim a escola pode dialogar com sua comunidade.

CR: A educomunicação pode ser um caminho para alcançar a interdisciplinaridade no currículo escolar? Como fazer isso?

Jovens em atividade. Crédito: Divulgação

Jovens em atividade. Crédito: Divulgação

Carlos Lima: A Educomunicação é educação com a comunicação. Neste sentido, é uma espécie de ponte entre as pessoas e os conhecimentos. É uma proposta que promove a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. No currículo escolar, a Educomunicação, por meio de seus projetos, articula os conhecimentos das matérias escolares ou áreas do conhecimento. Podemos desenvolver ações com professores de Ciências, mas também com os de Português, História, Geografia, lembrando-se sempre que é o estudante que deve sugerir ou até mesmo “dar a ideia” desta ação. Isto é uma atitude Educomunicativa.

Escola pública de Roraima aposta em projeto de educomunicação

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.