Como incentivar a musicalidade entre os alunos para além do contato com os instrumentos

Publicado dia 20/12/2017

*Por Claudia Ratti e Ingrid Matuoka

Seja cantando, batucando ou tocando um instrumento, a musicalidade é uma das formas de expressão que acompanha o indivíduo desde o início da vida. Reconhecer essa potencialidade e incluir a música na educação, de maneira integral, é um caminho fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças.

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“A criança é movimento”, resume Renato Epstein, do Barbatuques, grupo musical de percussão corporal. Mas se na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, as escolas, de forma geral, compreendem a importância de estimular essa dimensão, com o avançar dos anos tendem a deixar esse aspecto de lado, concentrando-se no intelecto.

Para Epstein, esse entendimento é um grande equívoco. “Uma criança muito podada tem dificuldade de se tornar um adulto inovador, criativo, que sabe se expressar”, explica o músico, que também é educador. “Nós damos oficinas em ambientes corporativos e vemos muita dificuldade entre os adultos de se soltarem, de usarem o corpo”, conta.

Incluindo a música na educação

Para incentivar a musicalidade dos alunos, independentemente de seu grau de afinidade com a técnica, o primeiro passo é quebrar a noção de que fazer música é difícil e que exige o domínio de um instrumento. Isto porque, muitas vezes, os alunos se afastam da área por achar que não são capazes de participar e integrar uma atividade musical.

O Barbatuques propõe a descoberta das potências musicais do próprio corpo valendo-se de práticas como estalos de dedos, batidas de palmas, sapateado e o som da palma da mão contra diferentes partes

Como proposta para incentivar ou retomar essa conexão, o Barbatuques propõe justamente a descoberta das potências musicais do próprio corpo valendo-se de práticas como estalos de dedos, batidas de palmas, sapateado e o som da palma da mão contra diferentes partes  – uma abordagem que pode facilmente adentrar a escola.

“Ao fazer uma prática assim, interessante e desafiadora, a criança se percebe como importante dentro do grupo, para que a música se realize, pois sem ela o resultado ficaria diferente. O individual é importante na realização da música, mas também o coletivo. Se ela não se perceber naquele grupo, não terá a capacidade de ouvir e de aprender com o outro”, aponta Renato Epstein.

Outro aspecto importante destacado pelos Barbatuques para o desenvolvimento da musicalidade do indivíduo é aproximar a linguagem musical do cotidiano das crianças e jovens. “O professor é fundamental para que o aluno entenda uma disciplina de maneira mais lúdica, então o docente pode trazer uma batida de hip hop, de funk, um ritmo mais familiar”, aconselha o integrante Charles Raszl.

Também nessa perspectiva entra a relevância de associar a manifestação musical com o brincar. Para Mauricio Maas, também músico do grupo, as escolas ainda carregam a ideia de que o tocar e o brincar não podem caminhar juntos: “é importante pensar no contexto maior do tocar e do brincar. O Barbatuques traz uma linguagem que é lúdica e que mostra que esses conceitos podem se aproximar muito”.

A música como uma linguagem acessível

Para o professor de música Victor de Souza, que trabalha com alunos da Educação Infantil do Colégio Santa Amália, localizado na zona leste de São Paulo, a musicalização não é somente uma introdução à música, mas uma forma de estruturar o que já é natural para a criança.

O importante na hora de planejar uma atividade musical é trabalhar o pensamento lógico e uma abordagem lúdica

“Desde quando o bebê está na barriga da mãe, ele já tem contato com o ritmo do batimento do coração, mas essa noção vai se perdendo se não for trabalhada“, diz.

Victor conta que existem formas muito simples de fazer isso, como quando durante a aula as crianças deitam no chão e cantam algumas músicas balançando o corpo para sentir o ritmo da música.

Outras atividades também propõem aos estudantes experimentar as noções de trabalho coletivo, intensidade do som, ritmo e melodia. 

O professor afirma que o importante na hora de planejar uma atividade é trabalhar o pensamento lógico e a aproximação das crianças com a música mais formal de forma lúdica e estimulando a criatividade.

Com os alunos sentados em círculo, o professor sugere que um deles vá até a lousa e desenhe uma espécie de partitura, onde símbolos indicam sons “grandes” ou “pequenos”, para que os colegas reproduzam em um tambor ou com claves.

Em relação aos materiais, o professor explica que as claves podem ser confeccionadas com cabos de vassoura e que o tambor pode ser substituído por uma lata e, a exemplo dos Barbatuques, é possível usar o próprio corpo.

“Mesmo que não tenha nenhum recurso, é possível fazer as atividades até com a palma da mão. Na verdade, os recursos não são a essência da musicalização em si”, reitera o professor. 

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