Maison de L’enfance: autonomia em diálogo com percurso de aprendizagem

Publicado dia 25/02/2015

selo_cidade educadora“Mãos criativas, cabeças inteligentes”. O lema é o que direciona o projeto político pedagógico do Colégio Maison de L’enfance, localizado na comunidade de Peñalolén, na cidade de Santiago, capital chilena. Com base nas propostas do educador francês, Célestin Freinet, todas as atividades, direcionadas a crianças de um a cinco anos, buscam, dentro das diferentes capacidades de aprendizagem, estimular o desenvolvimento autônomo para a vida em sociedade.

Na área maternal (Sala Cuna Mayor, sala Grande Berço em português), que atende crianças de um  a dois anos de idade, o trabalho dá ênfase ao autoconhecimento, e também às práticas iniciais de socialização. As crianças são estimuladas a partir do conceito de puericultura – ciência médica responsável pelo estudo dos cuidados com o desenvolvimento infantil – a terem hábitos alimentares saudáveis, e a irem ao banheiro sozinhas, em apoio ao desfraldar delas.

Nessa fase, o tempo dedicado às atividades é bastante flexível e determinado em parceria com os pais, para melhor se ajustar às necessidades de cada criança; os espaços escolares também priorizam momentos de descanso e banho, com acomodações específicas, ressaltando a importância do espaço físico para as etapas de desenvolvimento das crianças.

“O trabalho na escola não deve ser um auxiliar da aquisição do intelectual, mas um elemento constitutivo, próprio da atividade educativa, e, portanto, integrado à mesma. O processo de aprendizagem se baseia na: observação, experimentação e ação e não apenas na razão assim como a pedagogia tradicional.” Célestin Freinet, no livro Pedagogia do Trabalho.

No chamado nível médio menor (Nivel Medio Menor), voltado para crianças de dois a três anos, o trabalho é orientado de acordo com os conteúdos mínimos do Ministério de Educação e as atividades fomentam o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e o reconhecimento de dimensões cognitivas básicas. As práticas mesclam jogos e outras situações de convivência que motivem, sobretudo, a imaginação e a criatividade em diálogo com o conhecimento.

O nível médio maior (Nivel Medio Mayor) olha para a faixa etária dos três aos quatro anos. Nessa etapa entram no escopo do trabalho pedagógico o reconhecimento de instruções, a cultura verbal para entendimento do entorno, os jogos aritméticos, a linguagem icônica, a iniciação à leitura, e as experiências com os erros. As crianças também  são iniciadas ao senso de responsabilidade com seus pertences e materiais escolares. Essas atitudes cotidianas são transpostas ao cenário macro, buscando que os estudantes consigam construir a mesma relação com o planeta e nas relações com seus pares.

O Prekinder é o nível direcionado às crianças de quatro e cinco anos. Na etapa, os conteúdos educacionais são utilizados de forma a contribuir com uma capacidade de leitura do meio, e uma percepção social e cultural. Para tanto, são utilizadas as saídas pedagógicas pela própria comunidade ecológica de Peñalolén para que as crianças possam observar o cultivo de plantas, a vida dos animais; e visitas orientadas a museus, parques, bibliotecas e demais espaços com o intuito de estabelecer significado para os conhecimentos adquiridos. Os alunos dessa etapa escolar também apoiam na aprendizagem dos menores a partir da contação de histórias e contos, buscando que, ao passo que desenvolvem a linguagem, se tornem, desde pequenos, educadores de seus pares.

E, finalmente, o Kinder corresponde às crianças de cinco a seis anos que se preparam para ingressar no equivalente ao ensino fundamental. Nesse momento, os aprendizados anteriores são reforçados com o intuito de formalizar as aprendizagens iniciais. Nessa etapa, o aprender já acontece de maneira mais sistematizada, em textos, em relações de correspondências – como percepção de quantidades -, observação ao meio ambiente e a todo o contexto escolar e familiar.

Participação ativa

Outras atividades compõem a trilha de aprendizagem das crianças em que todas são estimuladas a participar, mesmo que em diferentes etapas de desenvolvimento. As oficinas de alimentos ilustram um desses momentos: os alunos são estimulados a conhecer os alimentos, as capacidades nutricionais de cada um, as vantagens para o organismo. Além de apoiar na construção da consciência alimentar saudável, esses conhecimentos são ponto de partida da construção curricular.

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Crianças na investigação do meio ambiente. Foto: reprodução

Elas também interagem com o entorno escolar, regando plantas, depositando nas composteiras resíduos de saladas, que também são utilizadas para alimentar os coelhos da região.

Outro momento em que todas as crianças tem voz ativa são nas assembleias, onde se busca o entendimento da criança como parte da comunidade escolar. Para isso são valorizadas as situações de convivência, e atividades que reforçam os diferentes níveis de aprendizagem que os alunos se encontram.

Organização escolar

Estudantes em assembleia. Foto: reprodução

Estudantes em assembleia. Foto: reprodução

A ampliação das oportunidades educativas em consonância com o meio, e a multiplicação de práticas em diálogo com educação e cultura, nascem com a criação de uma organização não governamental dentro da comunidade escolar em 1995, chamada Ambiente de Crianças (Ambiente de Ninõs). O grupo se constituiu a partir de um movimento da comunidade (pais e professores) como apoio às diretrizes institucionais; em contrapartida, há um desconto concedido aos filhos dos integrantes no percurso escolar. Esse recurso é bastante limitado, pois se espera real comprometimento do grupo com o colégio.

Quando no grupo, pais e professores recebem o título de sócios ativos, nomeação para a qual constam deveres como, cumprir com o regulamento interno quanto ao pagamento de cotas (elas são utilizadas para ajudar nos custos fixos do colégio), prestar assistência e estar presente nas reuniões. É de direito dos participantes compor a comunidade solidária, participar dos projetos e a ter uma bolsa de trabalho ou desconto segundo as necessidades ou méritos.

A escola pode compor o diretório com até seis membros das áreas de administração, educação, extensão e meio ambiente. A esse grupo, especificamente, cabe a articulação pelo desenho curricular de todo o país a partir da integração do eixo meio ambiente, recuperar materiais do entorno para o desenvolvimento dos projetos educativos, implementar estratégias para o manejo sustentável dos recursos naturais e energéticos.

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Autoimagem e senso do outro como pontos estruturantes da aprendizagem. Foto: Reprodução

Cabe ainda o pensar sobre como as oportunidades educativas podem ampliar o currículo, diversificando as possibilidades de aprendizagem, sem deixar de dialogar com o próprio documento. Para tanto, o grupo é parte de uma rede composta por instituições nacionais e internacionais, com vistas a oferta de um espaço educacional para aprendizagem.

Principais resultados

A partir de uma educação centrada no experimental, a trilha de aprendizagem do Maison de L’enfance contribui para a formação de indivíduos livres, criativos, pesquisadores – muito por conta das situações que vivenciam no dia a dia, juntamente com outras crianças e os que mediam esses processo. Na perspectiva do desenvolvimento integral, cada projeto ou ação educativa é pensada para elevar e cultivar o interesse, a autoestima, a capacidade de imaginar, inventar, propor, discutir, dentro de uma esfera coletiva, empoderando a cada participante.

Aliando o pensamento sustentável ao aprender fazendo das crianças, a escola montou uma Recurseria, sala em que todo o material coletado na própria unidade e na comunidade é aproveitado como material para trabalho das crianças. Como parte das atividades pedagógicas, elas são convidadas a montar brinquedos, criar artefatos para as investigações e saídas pedagógicas pela comunidade e desenvolver projetos de pesquisa.

A sala torna-se ainda mais importante no Ensino Fundamental, já que, com o passar dos anos, a pedido dos pais e das próprias crianças, a escola conseguiu estender a etapa educacional, e hoje, atende estudantes sob a mesma perspectiva – democrática e investigativa – até 14 anos de idade. E, há mais de dez anos, a escola trabalha com a jornada ampliada, com educação integral e ambiental em tempo integral.

 

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