Como o território pode ajudar as crianças a ter uma alimentação mais saudável?

Publicado dia 04/11/2015

alimentacao_saudavel

Educação alimentar é uma das principais preocupações da Escola Comunitária Brincando e Criando

Lancheira pronta vinda de casa não entra na Escola Comunitária Brincando e Criando, em Camaçari (BA). Depois de um processo de educação dos pais e estudantes, as crianças se nutrem da alimentação oferecida na merenda escolar, composta por alimentos naturais e não processados.

A diretora da escola, Edna Matos, conta que a partir da escuta das crianças, percebeu que a alimentação deles em casa tinha como base produtos industrializados. Para fazê-los adotar uma nova rotina nutricional, foi necessário, primeiro, colocá-los em contato com essas “novas” comidas.

Os meninos e meninas, que têm entre 3 e 5 anos, são levados cotidianamente a um passeio pelo bairro para conhecer os mercados do território. Lá, são apresentados a uma ampla gama de frutas, legumes, verduras e outros alimentos saudáveis.

Saiba + Material: guia alimentar para a população brasileira
Órgão da Prefeitura de São Paulo quer garantir direito à alimentação adequada

Outro movimento importante feito pela escola foi levar os estudantes para conhecer as terras cultivadas pelos agricultores familiares que produzem a comida consumida por eles todos os dias durante o período letivo.

“Quando levamos as crianças ao mercado e à zona rural, elas entendem como esses produtos chegam à casa deles e aqui na escola; isso é fundamental para elas aceitarem a alimentação mais saudável que oferecemos”, afirmou a diretora.

Além de um consumo mais consciente dos alimentos, outro elemento que diferencia a escola é que, ao contrário das experiências mais tradicionais, na Brincando e Criando são as próprias crianças que se servem, escolhendo a quantidade e o que desejam comer, dentre as opções oferecidas pela escola.

A ideia surgiu a partir da formação continuada que os docentes tiveram com o projeto Paralapracá* que trabalha com a ideia de que os estudantes, desde pequenos, devem ter a sua autonomia e liberdade garantidas e incentivadas pela instituição escolar.

criancas_patio

Estudantes pintam no pátio da escola

O respeito à autonomia é trabalhado a todo o momento. O pátio da escola costuma ficar tomado por alunos das mais diversas turmas, brincando daquilo que elas mais sentem vontade. Em um canto, alguns estudantes leem livros; no outro, há um grupo de crianças pintando; em um terceiro espaço do pátio, outros estudantes brincam de pular pneus.

Saiba + Uma escola infantil onde as crianças decidem o que querem aprender

As crianças só deixam de lado as atividades que estão desenvolvendo para se refrescarem em um merecido banho de mangueira, ao final de uma manhã quente na cidade baiana. “Ouvimos as crianças e os pais a todo momento, buscando o empoderamento deles. Trabalhamos com a ideia de todos são portadores de deveres, mas principalmente de direitos”, explicou Edna.

Território e projetos

mangueira_2

Crianças se divertem com um banho de mangueira em uma manhã quente

O território do entorno do colégio não é utilizado como instrumento pedagógico somente na demanda da alimentação. As crianças saem às ruas pelo menos uma vez por semana para realizar alguma atividade. A comunidade e os pais também são constantemente convocados a participar da vida da escola.

A instituição fica no bairro de Novo Horizonte, em uma região pobre de Camaçari. Edna conta que os estudantes tinham vergonha de dizer onde moravam. Dessa forma, o passeio constante pelas ruas da comunidade foi essencial para que os pequenos passassem a valorizar a região.

“A partir dessas saídas, que são pensadas com eles, nós conseguimos mostrar outro lado do bairro, valorizando o trabalho dos pais e a região em que moram”, relata a diretora.

Uma dessas atividades externas é buscar materiais que auxiliem na confecção dos projetos de fim de ano. As crianças e os professores vão às ruas para buscar garrafas pet, cerâmica, papelão, tudo que possa ajudá-los a construir as peças que são expostas na feira ao final do ano letivo.

As obras produzidas pelos estudantes são todas exibidas para os pais e pessoas do bairro. O espaço em que é realizada a feira é um campo de futebol que fica a poucos metros do prédio da escola.

fogao_geladeira

Estudante com brinquedos desenvolvidos por eles mesmo

Em 2015, as crianças foram estimuladas a desenvolver objetos com papelão, cores e grãos. Do material recolhido por eles nas ruas de Novo Horizonte nasceram violões, casas, geladeiras e fogões, utilizados nas brincadeiras do dia a dia.

Na feira, os estudantes também mostram os quadros pintados por eles, fruto de um processo de aprendizado que leva o ano todo. Edna explica que eles e elas não pintam direto na tela. Aos poucos, foram aprendendo as técnicas de pintura para só agora no final do ano começarem a colocar as ideias no quadro.

* O repórter viajou a Camaçari, entre os dias , 19 e 20 de outubro de 2015, a convite do Instituto C&A.

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.