Monitoria entre pares
Práticas

Monitoria entre alunos com e sem deficiência

A prática visa incentivar a parceria entre alunos com e sem deficiência nos processos formais de ensino-aprendizagem. As atividades de monitoria podem acontecer entre crianças, adolescentes e jovens da mesma turma e faixa etária, ou em situações que envolvam estudantes de diferentes ciclos.  O fundamental é cultivar e fortalecer contextos nos quais os próprios alunos são os protagonistas de práticas pedagógicas inclusivas, atuando com o apoio dos professores regulares e dos professores de atendimento educacional especializado (AEE).

Para a educadora Dóris Anita Freire Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a diversidade em sala de aula é um dos grandes desafios vividos pelo professor, especialmente em contextos de alunos com e sem deficiência. Neste sentido, quando se pensa em uma educação para inclusão, é fundamental possibilitar trocas entre os sujeitos, interações, diz a professora. “A qualidade destas interações é essencial para todos, mas, sobretudo, para aquelas crianças com necessidades educativas especiais que passam pelo processo de inclusão. Considera-se, então, tanto a relação adulto, educador/aluno, quanto a relação entre alunos.”

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Assumindo a perspectiva de Vygotsky (importante pensador, fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural), a pesquisadora reflete que a relação entre os sujeitos e o mundo real está em permanente movimento e transformação. “Ao demonstrar que a aprendizagem é uma experiência social e o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, Vygotsky ilumina a visão dialética do aluno com deficiência – se existem as possíveis limitações, existem também inúmeras possibilidades de superação”, aponta.

Entendendo a educação entre pares

Para o UNICEF, a educação entre pares é uma metodologia interessante porque:

  • todo mundo cresce e aprende com a experiência, desenvolve habilidades de liderança e melhora sua capacidade de se comunicar e de tomar decisões;
  • os jovens conversam entre si no dia a dia, e isso gera uma afinidade maior entre quem conduz a atividade e quem participa dela;
  • sua flexibilidade permite que ela aconteça em qualquer lugar e com os recursos disponíveis;
  • a ação pode ser combinada com outras atividades educativas.

Nesta perspectiva, a professora enfatiza que os trabalhos em grupos, e principalmente em duplas, são muito produtivos para o aprendizado do aluno. “Vários estudos, tanto piagetianos quanto vygotskianos, mostram a importância das trocas com colegas para o aprendizado. O trabalho em dupla é extremamente produtivo para os alunos que estão se incluindo, especialmente quando as duplas são constituídas por alunos de níveis de desenvolvimento diferentes, mas não com uma defasagem muito grande entre si. Assim sendo, o companheiro mais adiantado pode ajudar o colega, sem, entretanto, anular a sua participação.”

Tomando a prática de monitoria entre pares como estratégia pedagógica de compartilhamento e apoio mútuo, faz-se necessário compreender que estas iniciativas não implicam um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim, um ensino diferente para todos, em que crianças e jovens tenham condições de aprender, segundo suas próprias capacidades, habilidades e interesses.

Estas práticas podem surgir como uma ideia dos próprios alunos ou iniciativa do educador. O importante é dar ênfase ao diálogo entre os estudantes, pois tais iniciativas favorecem a aprendizagem num ambiente em que a troca de experiências é o ponto alto para que ocorra uma educação significativa, partindo da vivência que cada um traz do seu cotidiano.

Como fazer

Planeje

No site Assistiva – Tecnologia e Educação é possível encontrar uma série de materiais sobre educação inclusiva. Acesse.

Implemente

O que é Desenho Universal da Aprendizagem?

  • É um conjunto de estratégias, técnicas e materiais flexíveis para alunos com características diversas;
  • Ele ajuda no aprendizado dos alunos com ou sem deficiência;
  • As informações são apresentadas de diversas maneiras, respeitando as individualidades de cada estudante;
  • Os alunos podem expressar o que sabem de diferentes formas;
  • São criadas estratégias múltiplas para fazer com que o aluno tenha desejo de continuar estudando e seja responsável pela sua aprendizagem;
  • O Desenho Universal da Aprendizagem é importante para todos, mas é determinante na vida das pessoas com deficiência intelectual.

Conheça mais na publicação “Desenho universal para livros didáticos”.

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Materiais necessários

Aprendendo com quem faz

Escola Nova – Rio de Janeiro (RJ)

A prática de monitoria entre pares na Escola Nova, no Rio de Janeiro, traz a experiência dos alunos Pedro e Rodrigo. No sétimo ano, Rodrigo foi convidado pela professora para se tornar monitor de um grupo de colegas de classe. O objetivo inicial era um encontro para “reforço” antes das provas e avaliações, mas Rodrigo inovou a prática quando buscou – por iniciativa própria – a mentora de AEE do colega Pedro, que tem síndrome de Down. Percebendo que o amigo tinha dificuldades específicas, ele estruturou seu programa de monitoria focado nas necessidades de Pedro. Depois de algum tempo, muito mais do que um reforço escolar, os encontros se transformaram em um vínculo de amizade, respeito e solidariedade. “Aqui, minha função é auxiliar a todos. Isso é uma verdadeira inclusão”, conta Rodrigo.

Escola Municipal Ivo Silveira – Capinzal (SC)

Outra experiência de monitoria aluno-aluno vem de Capinzal, interior de Santa Catarina. A professora de Matemática Simone de Carvalho, da Escola Municipal Ivo Silveira, decidiu que suas aulas precisavam ser apresentadas aos alunos de modo instigante e significativo. Observando que, em todas as turmas, havia alunos com dificuldades e outros que sempre estavam adiantados com as lições, ela planejou um projeto em formato de monitoria, de forma a atender essa diversidade. Assim, a afinidade de alguns com a Matemática seria estimulada e a dificuldade de outros, superada. Além disso, conseguiria fortalecer os laços interpessoais e garantir a integração dos estudantes.

Os alunos selecionados como monitores participaram de encontros formativos, com periodicidade semanal. Nesses encontros, eles foram familiarizados com o projeto e receberam reforço de seus conhecimentos. O momento também foi aproveitado para troca de saberes, registro e outras contribuições dos próprios alunos. “Nas oficinas de formação, os estudantes traziam sugestões de problemas ou atividades – mesmo os mais jovens, do sexto ano, contribuíram. Eu deixava que eles participassem, porque esse era um dos ‘segredinhos’ do projeto: deixar que fossem mais autônomos”, explica Simone.

Em uma das turmas de Simone, estava Luciane Heller, uma aluna com deficiência auditiva e aptidão para a Matemática. “No caso dela, o projeto serviu mais para a integração com os demais. Ela se sobressai na disciplina e conseguia ajudar os colegas”, relembra a educadora.

Depois das atividades em grupos, aula de monitoria e ajuda de uma intérprete, Luciane começou a se relacionar melhor com a turma. Segundo a professora, mesmo com a deficiência, a aluna passou a colaborar no aprendizado dos outros estudantes. “Era um desafio para ela, para mim, para os monitores e para a turma. Foi um grande aprendizado para todos nós.”

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